Eleições presidenciais de 2006.
Lula lutava pela reeleição.
Geraldo Alckmim tentava arrastar o pleito para o segundo turno.
Cheguei ao trabalho cedinho. Primeira tarefa?
Acompanhar o voto do então prefeito do Rio, Cesar Maia.
A zona eleitoral onde vota o democrata fica no Hotel Intercontinental em São Conrado, na zona sul. Maia é sempre um dos primeiros a chegar à seção, com sua indefectível jaqueta azul marinho e um jornal embaixo do braço.
As pesquisas apontavam para uma vitória de Lula, com pouca chance de novo embate nas urnas naquela eleição.
Logo cercado por jornalistas, Maia foi taxativo:
_Não tenho dúvida. Haverá segundo turno. Fiz meus cálculos hoje de manhã.
Contestamos a afirmação apresentando os recentes dados dos institutos. Números que não desanimaram o alcaide.
Em uma das mãos, eu empunhava o microfone, na outra, segurava meu telefone celular. Lembro que o aparelho era dos mais modernos da época.
Ganhara da operadora como bônus em promoção. Estava tinindo de novo.
De repente, a proposta de Maia:
_ Tenho tanta certeza que Alckmin vai com força para o segundo turno que sou capaz de apostar com você.
_ Apostaremos o que prefeito?
_Você me dá seu celular se meu candidato for para o segundo turno, e se ele não for, te dou meu apartamento_ em tom irônico.
Aposta firmada com aperto de mão e até registro dos fotógrafos presentes para a posteridade.
Encerrei a entrevista com o sonho vivo da casa própria.
Comecei até a programar a mudança...
No dia seguinte, a aposta ousada do prefeito foi comentada na mídia. Virou notinha de coluna política no jornal.
Meu sonho foi curto. Chegou ao fim logo após a apuração.
Alckmim conseguira votos suficientes para prolongar o duelo com o petista.
Semanas depois, em conversa com a assessora de comunicação do prefeito, Agatha Messina, o assunto voltou:
_ Cesar Maia, outro dia, lembrou da aposta que firmou com você. Está esperando o telefone novo.
Na manhã seguinte, enviei um cartão pessoal ao gabinete da prefeitura.
No envelope, o recorte da foto de um celular e a frase: Caro prefeito, Devo, não nego, pago quando puder... Por hora, guarde este telefone de papel no bolso. Eu tenho missão bem mais árdua: Guardar o apartamento na memória.