terça-feira, 15 de junho de 2010
Banquete
Revelo aqui paixão das mais reclusas:
Tem um dia do ano no qual me rendo a um ritual cristão, à moda da casa. O dia de um amigo especial.
O carinho vem de longa data.
Canções juninas e preces ensinadas no colégio alertaram para o encanto do senhorzinho cândido que carrega uma criança. Devoção que começou um pouco abusada, no auge da adolescência.
Pobre Santo.
Recuperações escolares, indiferença do menino amado e até espinha na hora errada, eram motivo para velas e orações.
Hoje temos relação bem mais comedida. Agradeço muito e até peço, mas, só em ocasiões realmente desesperadoras.. Sempre bem sucedida.
No último dia de Santo Antonio em 2010, não houve acrobacias para escapar de reportagens. A escala de plantões, caprichosamente, ajudou.
Minha homenagem não foi à igreja. Raramente vai.
Prefiro conversas mais íntimas.
Naquela manhã de inverno precoce, refleti em dez quilômetros de calçadão.
Naquela manhã de inverno precoce, refleti em dez quilômetros de calçadão.
Comprei frutas, flores e ingredientes.
Me pus a cozinhar um cardápio dos deuses. Dos Santos.
Diante do fogão, vinho tinto, trilha sonora, hortaliças, temperos e camarão graúdo. Pura meditação abençoada por um catolicismo adormecido, por hora latente, entre panelas, grelhas e molhos.
Cheguei a fazer convites para desfrute conjunto do banquete.
Nem precisava...
Já tinha um convidado para o jantar.
É certo que no fim do farnel, meu querido Antonio, piscou os olhos.
Eis que surge visita inesperada, que não chegou a azedar a comida.
Santo preferido tem poder.
O intruso, o buquê e o rosê foram prontamente defenestrados.
De volta ao batente de alma lavada e bem alimentada.
Com a benção do amigo na carteira, nas pegadas, na sombra.
Salve!
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