terça-feira, 5 de agosto de 2014

DOMINGO


Domingo é dia preguiçoso.
Com céu molhado lá fora, abandonar as cobertas é tarefa desafiadora.
Sem nada para fazer, sou atormentada pelos pensamentos.
Perguntas malucas que vão longe.
E perguntar à própria imaginação também é exercício.

Se estou eu, cá, um tanto entediada, embolada no edredom, onde estará agora Arlindo Cruz, por exemplo? Lembrei do amigo compositor ao ver um anúncio de um show dele no jornal agorinha.
Se fez show ontem, foi dormir ao raiar do dia. Deve estar no primeiro sono, sonhando com a próxima canção.
Ouvi dizer que sonho de compositor tem trilha sonora.

Espio o Instagram e vejo fotos de amigos prontos para a largada de uma maratona na praia.
Sempre tive inveja dos atletas madrugadores. Com sol ou com temporal, lá estão eles.
Aos domingos, prefiro sempre estar cá. Sair correndo durante 42 quilômetros, do nada, de ninguém, de manhã, não é para mim. A chuva me redime. Renego exercícios ao ar livre, sem culpa, em dias cinzentos.

Ainda na cama, alcanço o controle remoto.
Agora, acompanho uma série de clipes musicais na TV.
Lá vem mais um da Beyoncé.
Aliás, e a diva? Como será o desjejum dela em um domingão de folga?
Para manter o corpo invejável,  deve ser iogurte com chia.
Já o meu café da manhã de hoje é uma heresia: um suculento bem-casado que ganhei do enteado.
Na folga, faço essas estripulias.
Não tem coisa melhor que um docinho dormido açucarado.
É quando o pão de ló está no ponto. Bêbado de doce de leite.

Na revista da TV, leio a notícia de mais um projeto do incansável Miguel Falabela.
Será que ao menos em um domingo do mês ele descansa a cabeça?
Duvido. Mas, espero que sim. Ia me confortar saber.
Apreciaria ainda mais a letargia de hoje.
Se ele para, por que também não posso?

Mudo o canal e as perguntas viajam para outro continente.
As questões se aprofundam.
Penso no domingo triste da mãe palestina que perdeu seu filho no bombardeio de ontem.
Na dúvida da família israelense que agora está indo dormir, sem saber se o cessar-fogo será respeitado.
Atrás do muro que os divide, olham para o céu à espreita. Não da chuva do Rio, e sim, do míssil que pode atravessar o céu de Gaza a qualquer momento. Mais uma vez.

Penso no colega Guga Chacra, jornalista da Globo News em Nova Iorque, ao rever um comentário dele no canal a cabo. Diante de mais essa Guerra, o colega deve estar, neste momento, estudando no fim da manhã de verão na Big Apple.
Já deve ter lido todos os jornais do Mundo. Escrito mais um livro.
Enfim, deve estar produzindo.

Observo meu marido aqui ao lado, em sono profundo. Sono dos justos.
Madrugou aguardando o filho adolescente chegar da festa.
A respiração profunda e o semblante tranquilo me acalmam.
Agradeço tudo.
Obrigada Deus por meu domingo de paz.
Agradeço também à obstinação do Guga que me deixa alerta para o Mundo.
À mais uma boa música que virá do sonho do Arlindo.
À inspiração criativa que vem do Miguel.
Prometo até, um dia, experimentar iogurte com chia.

Obrigada chuva.
Apareça sempre.
Estou pronta para recomeçar.