segunda-feira, 20 de maio de 2013

NOSTRA

A Itália é nossa.

Pela estrada, o perfume do vento.
Da dama da noite da Toscana.
Do azeite das olivas suadas ao sol.
Do aparo da grama que voa.
Das uvas raras que ainda vão brotar.
Do chuvisco que evapora na terra seca.

Não era o motor.
Era o faro quem nos empurrava.

A cada curva, uma cidadela debruçada.
Rochedos que erguem a história.
Guerras, conquistas e pestes.
Árvores esguias e cabeludas como testemunhas.
Praças e escadarias. Fontes e bicas.
Altares e mármore travertino.

Igrejas milenares e suas minucias vivas.
Portais brilhantes. E tiros nas fachadas.
Relicários de preces silenciosas.
O padre de costas e a missa em italiano.
Criptas e abóbodas.
E a fé que converte ateus.

Pecorinos e trufas.
Taças e massas.
Molhos e óleos.
O tomate em cacho.
Framboesa fresca na rua.
E a fila do sanduíche de tripa.

Jardins, estâncias e cores.
Rosas brancas avançam na pedra.
Papoulas trançam o campo selvagem.
E no horizonte, o sol que se punha cor de rosa.
Da adega, o néctar que manchava as bordas. As bocas. Os sorrisos.

Gargalhadas entre amigos.
Novos ou antigos. Sóbrios ou bêbados.
Em mesa italiana, amizade é para sempre.
E segredos também.
Mas, os pratos são de todos.
"Prove do meu. Você merece".

Dias lentos. Ou rápidos demais.
Tardes embriagadas de carinho.
O cadeado de amor eterno na Ponte Vecchio
Dança nas ruas de Roma. Moedas para o artista.
E o som do acordeão na viela de Siena.

A Itália é dos apaixonados.
Dos curiosos que espiam propriedades privadas.
Dos gulosos que experimentam sabores.
Dos sensíveis à arte que surge a cada degrau.
Dos que se emocionam repentinamente.
Dos otimistas.

A Itália é nostra, amore mio.