terça-feira, 1 de junho de 2010

Where´s the ground?

Pegadas na pedra fria no quarto do 201. Agora, já calçada, a descer os degraus de madeira barulhenta sigo no paralelepípedo da garagem. Lá estão meus pés sobre embreagem, freio. Acelero. Caio no subsolo de borracha, cimento, viajo os andares do elevador. Tapete. Mármore de empresários. Lama do subúrbio. Poça da Gávea. Asfalto sobre o metrô. Ginástica no alto do prédio. Banho sobre o suporte. O direito, o esquerdo, clamam por chão. O corpo clama por chão. Há tempos... Mas onde? Cadê a primeira camada, de onde colho a pura energia do centro da Terra?
Há quanto tempo não pisamos no chão de verdade... Se é que já tivemos esta experiência...
Sigo pra praia, mas, nem a areia é incólume, com buracos, estoques subterrâneos. Num mergulho solitário, afundo. Um toque rápido do dedão, insuficiente, sufocante. Avisto um gramado no Aterro, sinônimo de assoreamento. Sobreposição que afastou o mar. Ali, descalça, louca, me engano, me deleito. Me olhem sim, não importa...
Caminho na terra molhada, penso, sonho. Entranho a sola, sujo os dedos, a unha, o esmalte cintilante.
É tarde. Calço as meias, sintéticas, coreanas.
De volta ao solo duro, criado.
Malcriado.