domingo, 5 de setembro de 2010

Sábio Quintana


A equipe de reportagem seguiu para a Fiocruz.
Era a inauguração do borboletário: uma casa de uns quarenta metros quadrados, revestida de tela, com flores e plantas pra todo lado. Curiosos, adentramos o paraíso das borboletas com cuidado para não pisar em nenhuma.
O desafio maior foi fazer imagens de dezenas de insetos inquietos.
A cada virada de câmera, eles voavam em bando.
Sentei num banco de canto para acompanhar o trabalho hercúleo do repórter cinematográfico.

_Elas são muito arredias._ disse o especialista da Fundação.

De repente, um belo exemplar pousou, sorrateiramente, no dorso da minha mão esquerda. Era da espécie "Júlia" com asas alaranjadas e tamanho médio. Fiquei imóvel.
Já a borboleta estava a vontade.
Logo desenrolou sua lingüinha negra e pôs-se a sugar algo.
Para surpresa geral, a nova amiga adotou minha mão como puleiro.
Ali refastelou-se por uns vinte minutos.
Gravei, atendi o celular, caminhei e ela não ameaçou decolar.
O relaxamento era tal que "Julia" fez até pipi.
Duas gotículas quase imperceptíveis. Soube que é um elixir afrodisíaco...

_Um dos fluidos mais límpidos da natureza. Na China, é vendido a peso de ouro.

Na dúvida, colhi o material inodoro com o polegar, espalhei na nuca e agradeci o presente.

O especialista seguia impressionado com o atrevimento:

_Há tempos não via isso. Ela não quer mais sair daí.

Enquanto observava o descanso da borboleta em mim, lembrei das palavras do poeta:

"O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar, não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você..!"

Por fim, a borboleta virou-se lentamente de frente, como se me encarasse. Abriu as asas e partiu.
Em seu repouso, ela não sugou.
Depositou foi inspiração em mim.

Viva Quintana.
Que venham as borboletas...