terça-feira, 12 de abril de 2011

REALENGO


Era preciso reportar.
Entender e fazer entender.
Mas como?

Eles não vinham da favela em guerra.
Não vinham da laje da pipa.
Muito menos de uma festa regada.

Chegavam feridos do colégio.
Vinham de uma aula de horror.

O jovem uniformizado retirado da ambulância.
Mãos trêmulas. Olhos arregalados.
Em sangue. Em choque.
O tubo lhe dava o ar.

A menina chega perfurada pelo dantesco.
Cabeça aberta à bala. Futuro interrompido a tiro.
Morreu na porta do hospital.

Mais alunos iam chegando ao som incessante das sirenes.
Mais mortes eram confirmadas ao som de gritos de pavor na emergência.

Médicos na rua em prantos.
E nós, repórteres, engolindo em seco.

Seu Jair entrou no carro amparado.
Levava na mão a fotografia de uma jovem linda.

_Essa é minha sobrinha. Esse sorriso foi embora.

Uma senhora ofegante chega perto:

_Deixei meu neto na escola. Ele não está mais lá.
Veio pra cá?

_ Acredito que sim, minha senhora.

Ela tomba em silêncio na calçada.
E eu, caio junto. De tristeza.

Era preciso reportar.
Entender e fazer entender.
Mas como?