Sou moça de contornos sutis.
No balneário das musas de albumina, ossos proeminentes podem ser incômodos.
Magricelas fazem malabarismo no sinal. Escondem a virtude em babados e estamparias bufantes, como loba que eriça pelos para atrair o macho.
Pobres cambitos. Testam operários e passam sem assobios.
O doce balanço a caminho do mar é azedo. Apelidos infames repercutem no salão:
_Espia só o esqueleto ambulante!
No embate com a profusão de seios fabricados, traseiros eqüinos e cabeleiras alisadas a ferro, uma competição desleal. Naturais versus biônicas.
As magras saem destruídas do primeiro confronto.
No dia seguinte, a busca pela lingerie encorpada, a blusa decotada e por fim, o analista.
Agora saibam: A derrota dura pouco. A vitória vem. Chega trotando lenta e saborosamente para estreitas genuínas. Essas sim, conhecem seu potencial. E como é vasto, acreditem.
Pratos fartos, calorias a perder de vista, combatidas de pronto pelo amigo inseparável, o metabolismo. Alegria de viver e de comer.
Entre a caneleira e o canelloni ficam com la Pasta, com muito parmesão por favor.
As medidas são portáteis e suaves. Carne que molda pontos cruciais. Gordurinhas bem localizadas. Malemolência na pista. Leveza perfumada. Energia de sobra.
As curvas estão ali, basta saber dirigir na estrada. Manobras surpreendentes não se revelam em shortinhos colados. Ficam na penumbra a espera de Fiat lux.
E quem faz a luz, sabe do que estou falando.
A casa do vizinho é espaçosa. A delas é pequena e tem cor.
Por vezes, adorariam um gramado mais verde em alguns canteiros...
Compensam então, com telha avermelhada no topo. Cobertura moderna, impermeável, inteligente.
Mulheres são insatisfeitas por natureza. Todas mudariam um detalhe ou outro no quintal.
As magras não são diferentes. Precisam apenas de estima arquitetônica.
Uma obra sem bisturis ou enxertos.
A ferramenta mestra é um engenheiro sabichão e só.
Feita a reforma na confiança e um abraço:
Quem visita vira hóspede.
Para valorizar a carcaça, abundância, não de nádegas, mas de charme.
Dom que escapa ileso da gravidade.
As fininhas natas também eriçam os pelos, só que sem intenção de atrair a matilha.
O arrepio é focado. Visa um alvo por vez.
Sim. Sou moça de contornos sutis. Com orgulho.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Coagulação
Segue a vida. Sem arrependimentos.
Passado de guerra e paz, no front, em segundos, à espreita da bandeira branca, de um descuido da estima, um vácuo da carência.
Nuvens negras, carregadas, sempre avançaram no meu sábado de praia.
No respiro, o descanso tem prazo.
Moto contínuo: a barraca fecha, a canga dobra, o matte seca, o polvilho apodrece.
Manhãs rosadas, tardes atribuladas, noites geladas, vinho, aquisições musicais, festa, gargalhadas e dança. Ah! A dança. Em par, entrelaçada, nuca perfumada, inaltece a alma.
Infortuito. Telefone maldito de cabo infinito e alcance imediato, toca impiedoso.
Batidas enervam, diástole sufocante.
Do outro lado, o estrago. A nesga de ferida aberta.
Enfrento num relance impensado. Memória feroz de um timbre que não esqueço.
Feliz da tecnologia ainda sem aroma.
Amenidades e farrapos. Histórias e estórias remetem ao esforço de outrora, ao desperdício.
Nostalgia e asco em uma única frase. Vícios, clichês, dejavus.
Passado de guerra e paz, no front, em segundos, à espreita da bandeira branca, de um descuido da estima, um vácuo da carência.
Explica, implica, suplica.
Nuvens negras, carregadas, sempre avançaram no meu sábado de praia.
No respiro, o descanso tem prazo.
Moto contínuo: a barraca fecha, a canga dobra, o matte seca, o polvilho apodrece.
No horizonte, um rasgo de céu azul, num tom especial.
Profundo. Maduro. Inigualável. De tão poderoso, colore qualquer dúvida, desloca a camada glacial.
Terral e força mental firmam a previsão. Volta o sol inclemente, que queima, entranha, enrijece.
A nuvem passou, a fresta apagou, a brecha fechou, a nesga sarou. Coagulou.
Um mergulho.
Segue a vida. Sem arrependimentos.
Ao menos pra mim.
terça-feira, 1 de junho de 2010
Where´s the ground?
Pegadas na pedra fria no quarto do 201. Agora, já calçada, a descer os degraus de madeira barulhenta sigo no paralelepípedo da garagem. Lá estão meus pés sobre embreagem, freio. Acelero. Caio no subsolo de borracha, cimento, viajo os andares do elevador. Tapete. Mármore de empresários. Lama do subúrbio. Poça da Gávea. Asfalto sobre o metrô. Ginástica no alto do prédio. Banho sobre o suporte.
O direito, o esquerdo, clamam por chão. O corpo clama por chão. Há tempos...
Mas onde? Cadê a primeira camada, de onde colho a pura energia do centro da Terra?
Há quanto tempo não pisamos no chão de verdade... Se é que já tivemos esta experiência...
Sigo pra praia, mas, nem a areia é incólume, com buracos, estoques subterrâneos.
Num mergulho solitário, afundo. Um toque rápido do dedão, insuficiente, sufocante.
Avisto um gramado no Aterro, sinônimo de assoreamento. Sobreposição que afastou o mar.
Ali, descalça, louca, me engano, me deleito. Me olhem sim, não importa...
Caminho na terra molhada, penso, sonho. Entranho a sola, sujo os dedos, a unha, o esmalte cintilante.
É tarde. Calço as meias, sintéticas, coreanas.
De volta ao solo duro, criado.
Malcriado.
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