terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Curta a Vida Curta

E, enfim, saiu do armário o vestido curto.
Tão curto quanto a vida dela que andava chata.
Diminuiu as medidas para diminuir o marasmo.
No elevador, o último spray de jasmim no cangote.
O cabelo ganha forma num rápido balançar entre as pernas.
Da portaria até o portão do prédio, risca a passarela imaginária cuja plateia tem um só espectador. E ele, abaixa o vidro para acompanhar atentamente o caminhar da moça. Ela entra no carro como se tivesse nascido assim: uma medusa lambuzada de batom nas alturas do salto sete.
Percebe os segundos de olhar estarrecido, logo disfarçado com um "boa noite, moça". No bar da moda, vodka colorida por frutas exóticas. Mesa de frente pro mar que quebrava revolto na areia.
Atenta aos gestos, às mãos que se apoiam, sorrateiramente, nas costas do sofá.
Risos relaxados pelo álcool.
À espera do manobrista, um abraço na calçada espanta a brisa da praia.
Corações sem comando compassam batimentos.
Segue a noite no show de dança com a amiga das pistas.
Ele, de camarote, entre cervejas e amendoins.
Música que embala os sorrisos. Pernas para que te quero.
Um dos pés pede arrego e fica descalço.
Hora de ir.
Madrugada a dentro, o comentário orgulhoso do moço:
_Todos olharam para você hoje... Roubou a noite.

Ah! Vestido curto... Curta e boa é mesmo a vida.