tag:blogger.com,1999:blog-5765090627093646402024-03-13T17:10:17.826-03:00SuspiradaUM RESPIRO LITERÁRIOAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.comBlogger68125tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-23800641477563843402014-08-05T19:16:00.000-03:002014-08-22T19:58:47.494-03:00DOMINGO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEji9zmbZ6Tmd1_0c91HmRprahqiAPY8hjiGh52CV75GGi9uzrsqP-R2WRXc6wY88Yqw6-ts9auB9P-wEGf1fD28SuT4s-GkJuTo-rI2C2c0wxuXBdFbt-cv_i0kZBNZbkAjfnRicrMeWpI/s1600/iii+013.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEji9zmbZ6Tmd1_0c91HmRprahqiAPY8hjiGh52CV75GGi9uzrsqP-R2WRXc6wY88Yqw6-ts9auB9P-wEGf1fD28SuT4s-GkJuTo-rI2C2c0wxuXBdFbt-cv_i0kZBNZbkAjfnRicrMeWpI/s1600/iii+013.JPG" height="200" width="200" /></a><br />
Domingo é dia preguiçoso. <br />
Com céu molhado lá fora, abandonar as cobertas é tarefa desafiadora. <br />
Sem nada para fazer, sou atormentada pelos pensamentos.<br />
Perguntas malucas que vão longe.<br />
E perguntar à própria imaginação também é exercício.<br />
<br />
Se estou eu, cá, um tanto entediada, embolada no edredom, onde estará agora Arlindo Cruz, por exemplo? Lembrei do amigo compositor ao ver um anúncio de um show dele no jornal agorinha.<br />
Se fez show ontem, foi dormir ao raiar do dia. Deve estar no primeiro sono, sonhando com a próxima canção. <br />
Ouvi dizer que sonho de compositor tem trilha sonora.<br />
<br />
Espio o I<em>nstagram</em> e vejo fotos de amigos prontos para a largada de uma maratona na praia.<br />
Sempre tive inveja dos atletas madrugadores. Com sol ou com temporal, lá estão eles.<br />
Aos domingos, prefiro sempre estar cá. Sair correndo durante 42 quilômetros, do nada, de ninguém, de manhã, não é para mim. A chuva me redime. Renego exercícios ao ar livre, sem culpa, em dias cinzentos.<br />
<br />
Ainda na cama, alcanço o controle remoto.<br />
Agora, acompanho uma série de clipes musicais na TV.<br />
Lá vem mais um da Beyoncé. <br />
Aliás, e a diva? Como será o desjejum dela em um domingão de folga?<br />
Para manter o corpo invejável, deve ser iogurte com chia.<br />
Já o meu café da manhã de hoje é uma heresia: um suculento bem-casado que ganhei do enteado.<br />
Na folga, faço essas estripulias. <br />
Não tem coisa melhor que um docinho dormido açucarado.<br />
É quando o pão de ló está no ponto. Bêbado de doce de leite. <br />
<br />
Na revista da TV, leio a notícia de mais um projeto do incansável Miguel Falabela.<br />
Será que ao menos em um domingo do mês ele descansa a cabeça? <br />
Duvido. Mas, espero que sim. Ia me confortar saber. <br />
Apreciaria ainda mais a letargia de hoje.<br />
Se ele para, por que também não posso?<br />
<br />
Mudo o canal e as perguntas viajam para outro continente.<br />
As questões se aprofundam. <br />
Penso no domingo triste da mãe palestina que perdeu seu filho no bombardeio de ontem. <br />
Na dúvida da família israelense que agora está indo dormir, sem saber se o cessar-fogo será respeitado.<br />
Atrás do muro que os divide, olham para o céu à espreita. Não da chuva do Rio, e sim, do míssil que pode atravessar o céu de Gaza a qualquer momento. Mais uma vez. <br />
<br />
Penso no colega Guga Chacra, jornalista da Globo News em Nova Iorque, ao rever um comentário dele no canal a cabo. Diante de mais essa Guerra, o colega deve estar, neste momento, estudando no fim da manhã de verão na <em>Big Apple</em>. <br />
Já deve ter lido todos os jornais do Mundo. Escrito mais um livro. <br />
Enfim, deve estar produzindo.<br />
<br />
Observo meu marido aqui ao lado, em sono profundo. Sono dos justos.<br />
Madrugou aguardando o filho adolescente chegar da festa. <br />
A respiração profunda e o semblante tranquilo me acalmam.<br />
Agradeço tudo. <br />
Obrigada Deus por meu domingo de paz. <br />
Agradeço também à obstinação do Guga que me deixa alerta para o Mundo.<br />
À mais uma boa música que virá do sonho do Arlindo.<br />
À inspiração criativa que vem do Miguel.<br />
Prometo até, um dia, experimentar iogurte com chia. <br />
<br />
Obrigada chuva. <br />
Apareça sempre.<br />
Estou pronta para recomeçar.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-77835198979708199842014-07-22T19:06:00.001-03:002014-07-23T00:20:13.467-03:00VALE DOS PERDIDOS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSrkvt5xNiieSibPZMOblCfayVNLU6Yhv6Z9_ofqTopp3gA5laj4efsdUKZd0fi-q1hCt86wj4lQ0eFTeGrwDOcxPtW4QHoC3nF0CI9e3uhhZv93VbK1g7lfVDqwyi0xHXaIJBucC-7yM/s1600/291801_2425705050527_1488558668_2654258_632673510_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSrkvt5xNiieSibPZMOblCfayVNLU6Yhv6Z9_ofqTopp3gA5laj4efsdUKZd0fi-q1hCt86wj4lQ0eFTeGrwDOcxPtW4QHoC3nF0CI9e3uhhZv93VbK1g7lfVDqwyi0xHXaIJBucC-7yM/s1600/291801_2425705050527_1488558668_2654258_632673510_n.jpg" height="150" width="200" /></a></div>
<br />
Não tenho maturidade para ter guarda-chuva. <br />
Tantos já se perderam. <br />
De bolinhas, do camelô e até um importado que, em um desatino, comprei em um Museu de Nova Iorque. A estampa reproduzia um arco-íris por fora e nuvens no interior. Uma beleza. <br />
Esse nem conheceu o Brasil. Algum gringo deve estar circulando por lá, cheio de estilo.<br />
<br />
Óculos escuros também são itens descartáveis na rotina dos desatentos. <br />
Uma vez, aos 14 anos, viajando com a família, economizei muito para comprar o par dos sonhos.<br />
Era da marca da moda na época: o tão desejado <em>Vuarnet</em> espelhado.<br />
Experimentei uns 20 modelos na loja. Toda prosa. Paguei uma nota, entrei no táxi e "deixei" de presente para o motorista muçulmano. Evaporou em tempo recorde. <br />
<br />
Vão-se os anéis, ficam os dedos. <br />
E fica também a dona da jóia,<br />
desesperada, quando elas decidem sair por aí. <br />
Sim, acredito que jóias têm vida própria. <br />
Meu marido vai ficar sabendo, neste momento, que, outro dia, minha aliança decidiu dar uma volta, sem mim, por algumas horas. <br />
Nunca tiro do dedo. Na única vez, a malandrinha escapou. <br />
Foi durante a ginástica. Fui usar um aparelho na academia e tirei a aliança para não machucar a mão.<br />
Coloquei, irresponsavelmente, no cós da malha.<br />
<br />
Já estava no carro, voltando, quando percebi a ausência da dita cuja.<br />
Tarde demais. Ela já estava passeando sozinha.<br />
Desci e refiz todo o trajeto.<br />
Na caminhada, ofereci logo mil pulinhos a São Longuinho.<br />
Sou reincidente. Três pulinhos é pouco. É injusto. No caso de aliança perdida então, nem se fala.<br />
Tenho um acerto com o santo que, aliás, é poderoso e fiel. Nunca me abandonou. <br />
<br />
Quem achou o anel foi minha professora. <br />
Brilhava embaixo da escada. <br />
Pronto. Era uma moça casada de novo!<br />
Os pulinhos? Pago sempre na hora. Onde estiver, como<br />
uma louca saltitante nas ruas. Todo mundo olha.<br />
Fazer o quê? Promessa é dívida.<br />
<br />
No ano passado, relutei em aceitar a oferta da minha avó.<br />
Dona Céu me emprestou uma jóia de família para usar no casamento. <br />
Brincos antigos lindos. Daqueles que já não existem mais.<br />
Dias antes, fiz um teste em casa. Dancei com eles nas orelhas. <br />
Sacolejei a valer para avaliar a firmeza da peça e a fixação nos lóbulos.<br />
E não é que, em pleno casório, um dos brincos decidiu dançar sozinho?<br />
Quase acabou com minha alegria. <br />
<br />
Após horas intermináveis, o <em>Fred Astaire de brilhantes</em> foi achado embaixo do sofá. <br />
Em seguida, lá estava eu, a noiva, aos pulinhos no banheiro. <br />
Perdi uma meia hora ali. Feliz da vida.<br />
O noivo chegou a pensar que havia sido abandonado.<br />
<br />
Deve haver um vale nas profundezas onde tudo que perdemos se encontra.<br />
Tenho contribuído para entulhar o tal espaço. <br />
Centenas de elásticos de cabelo, grampos, canetas, casaquinhos, dinheiro, chaves, cartões de débito, de crédito, escovas... Se escafederam. Não estão em lugar nenhum, garanto. Só podem estar lá.<br />
<br />
<br />
Telefones celulares estão aí para provar que estou melhorando. <br />
Amadurecendo, eu diria.<br />
Só me perdi de dois aparelhos até hoje.<br />
Um deles, na praia de Ipanema. Se escondeu na areia, o danado. <br />
Se não estivesse no modo vibratório, teria achado.<br />
Fiquei ligando sem parar.<br />
Situação humilhante essa de ligar para você mesma, torcendo para a sola do seu pé sentir o tremelique do telefone.<br />
Convenhamos que num sábado de verão, seria um reencontro improvável.<br />
Fui embora me consolando:<br />
_ O telefone foi doado para Iemanjá. Ela merece_.<br />
<br />
Com tantas perdas no <em>curriculum, </em>adotei uma técnica quase infalível.<br />
Transformei-me em uma espécie de cabide de perdidos.<br />
Perdidos não. Achados.<br />
Os óculos, quando não estão sobre os olhos, ficam pendurados na camisa ou no porta-óculos. <br />
Em nenhum outro lugar. Jamais.<br />
O celular, sempre na mão. Sem largar. Nem para me maquiar.<br />
Os elásticos de cabelo, enfileirados nos punhos.<br />
Os anéis, nos dedos.<br />
<br />
E o guarda-chuva? <br />
Ah, é um trambolho, vai?<br />
Deixa para lá... <br />
Faz bem tomar um banho de chuva de vez em quando.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-47511261614724861432014-07-15T18:12:00.003-03:002014-07-16T13:08:39.482-03:00FÃEu tinha uns seis anos. <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHYCz19JUQBctYuKkz1NcjCxDbB9TYbwei1Fu9NeXYpKOMio7ynqdscPHQEysT-LnJAyg53Qyu4Wp2VivGDZjdDEBWaImQdgE-CIuc5vbvmn7OyZ_N6mSNn8vMPrZBLkhtoCeiX2cbJ9g/s1600/clive.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHYCz19JUQBctYuKkz1NcjCxDbB9TYbwei1Fu9NeXYpKOMio7ynqdscPHQEysT-LnJAyg53Qyu4Wp2VivGDZjdDEBWaImQdgE-CIuc5vbvmn7OyZ_N6mSNn8vMPrZBLkhtoCeiX2cbJ9g/s1600/clive.JPG" height="196" width="200" /></a></div>
Paramos em um sinal de trânsito em Botafogo quando meu pai avistou um cantor famoso no carro ao lado: <br />
_Meninas, discretamente, olhem à esquerda. É o Léo Jaime ._ balbuciou.<br />
<br />
Eu, sentadinha no banco de trás do Monza, abri o vidro e gritei:<br />
_Oi Léo Jaime! Sou sua fã!_<br />
<br />
Antes de o sinal abrir, ainda tive tempo e coragem de cantar o <em>hit</em> da época: "As sete vampiras". Animadamente.<br />
O cantor riu. Meu pai não. <br />
Levei bronca.<br />
<br />
Não havia celular na época. Muito menos foto digital. Caso contrário, teria tentado registrar. <br />
Afinal, tratava-se de um encontro com o cantor preferido. <br />
<br />
Dizem que é de bom tom manter a linha e, praticamente, ignorar os famosos na rua.<br />
Idolatria é considerada cafonice por muitos. Eu mesma canso de entrevistar ídolos disfarçando a admiração. A profissão exige auto- controle. Confesso que, em alguns casos, no fim da gravação, peço foto. Não sou de ferro.<br />
<br />
Sempre fui seletiva. Só revelo preferência à celebridade que realmente curto. <br />
Certa vez, numa festinha infantil, tive a chance de estar perto de uma apresentadora de muito sucesso na minha infância. Lembro que não fiz questão de conhecê-la.<br />
<br />
Preferia roqueiros e galãs. <br />
Ainda adolescente, num restaurante em São Conrado, reconheci o guitarrista Mark Knopfler, do <em>Dire Straits</em>. No caso de famosos internacionais fica irresistível. <br />
Quando é que eu iria ter aquela oportunidade outra vez? <br />
O músico não foi dos mais simpáticos. Não trocou nem palavra com a mocinha de franja. <br />
Autografou o guardanapo molhado e pediu a conta. Voltei para mesa um tanto decepcionada. <br />
Queria ter, ao menos, praticado meu inglês. Mas, não teve nem um mísero <em>hi</em>.<br />
<br />
Já o ator Sean Connery foi surpreendente.<br />
O vi numa loja de departamentos, em Nova Iorque, enquanto escolhia uma gravata para meu pai. <br />
O eterno James Bond comprava umas em modelo borboleta. <br />
<em>Sir</em> Connery gostou logo da que escolhi. Perguntou ao vendedor se havia outra igual no estoque.<br />
Elogiou meu bom gosto e até perguntou para quem era o presente. <br />
Tomamos um chá, enquanto o atendente revirava as prateleiras.<br />
Meu pai ainda tem a gravata 007. Espero que ele também.<br />
<br />
Em Paris, com minha irmã, esbarrei com o ator Clive Owen. Ao me aproximar, pela primeira vez, fiquei muda de tão nervosa. Minha irmã teve que falar por mim e ainda tirou a foto acima enquanto tomávamos sorvete à beira do Sena. <br />
<br />
A sorte anda comigo. <br />
No fim da tarde de uma terça-feira, no Baixo Gávea, almoçava tardiamente nos fundos do restaurante vazio, quando um senhor cabeludo chegou. Sentou de costas para mim.<br />
Ele tentava pedir uma caipirinha de cachaça e maracujá com açúcar, sem sucesso.<br />
Fiz a tradução para o garçom, que me agradeceu muito. O tal gringo também:<br />
<br />
_Perfect!_ brindou ele. <br />
<br />
Era Robert Plant.<br />
Mais uma foto para meu álbum antológico. <br />
<br />
Certa vez, sobrou até para minha querida colega Ana Luiza Guimarães. <br />
Eu, prestes a começar a faculdade de jornalismo, reconheci num bar a, então, super correspondente da Globo em Londres. Lógico que fui importunar. Fiz várias perguntas e, sem nunca ter me visto, ela profetizou que eu, um dia, trabalharia na TV.<br />
<br />
Hoje, de certa forma, em alcance infinitamente inferior, vivo situações parecidas. <br />
Nada mais normal já que invado a casa das pessoas, quase que, diariamente. <br />
E tem gente por aí que aprecia o trabalho da moça aqui. Graças ao bom Deus. <br />
<br />
Comigo as abordagens são, eventualmente, invasivas. E eu me divirto. <br />
As pessoas se sentem íntimas. De verdade. <br />
Há tempos, ainda solteira, fui parada por uns surfistas sarados durante reportagem no Arpoador. Fiquei toda prosa, mas, só por alguns minutos:<br />
<br />
_ Oi! É você mesma? Achei que era mais "fortinha" pessoalmente. Na TV, você parece mais gostosa._ disse o gaiato. <br />
<br />
O cinegrafista Sérgio Leite, que estava comigo na praia, até hoje, me chama de "Magrela Gross", graças ao comentário daquele surfista. <br />
Para felicidade geral, o apelido pegou.<br />
<br />
Outro dia, aguardava uma mesa numa lanchonete com meu marido, quando um senhor atleta se aproximou. Se declarou meu fã e pediu permissão ao Guilherme para me dar um abraço. <br />
Foi tão afetuoso que me levantou do chão. Rimos muito. <br />
<br />
Uma senhorinha, meses atrás, me apertou a cintura no meio da rua. <br />
_É para ver se você é magra mesmo ou se usa cinta para esconder as gordurinhas_ disse.<br />
<br />
Comovente mesmo é o reconhecimento das crianças, sempre tão verdadeiras.<br />
Esse ano, soube de um caso inesquecível. <br />
Recebi carta de agradecimento de uma mãe de Del Castilho. <br />
Ela relatou que seu bebê, de nove meses, só para de chorar quando ouve minha voz na TV. <br />
Segundo ela, sou "mais eficiente que a "Galinha Pintadinha"" .<br />
<br />
_Conte comigo, Marcia. Eu é que, desde já, sou fã do pequeno Marcelinho. <br />
Saúde.<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-3954767040295309702014-04-17T18:50:00.000-03:002014-04-18T10:16:14.726-03:00FAZER FELIZ<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinMMLU27uc-TmV7-ZBwgBoZH6W6fJy8h7dJ8saka-l2c4GTLgIP-b68wxmnSdFAd54WCUNI09cahldNPZlzEpk2YtrNmBcVE0njz97FxAM1Emz7n-DRSN3aycOS0N2L1t1jZzk2Pvl5xk/s1600/foto+(3).JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinMMLU27uc-TmV7-ZBwgBoZH6W6fJy8h7dJ8saka-l2c4GTLgIP-b68wxmnSdFAd54WCUNI09cahldNPZlzEpk2YtrNmBcVE0njz97FxAM1Emz7n-DRSN3aycOS0N2L1t1jZzk2Pvl5xk/s1600/foto+(3).JPG" height="200" width="150" /></a>Casar é ter a oportunidade de conhecer a essência de alguém. <br />
É a chance de fazer alguém feliz. <br />
-----------------<br />
<br />
Ele é insone. Raramente dorme a contento.<br />
Quando a respiração ao lado se aprofunda, me alegro. <br />
Sinal de que, finalmente, se entregou a Morfeu.<br />
E observo, em silêncio, o encontro.<br />
<br />
Tem gula no fim da tarde. Vasculha a geladeira, que abasteci, ao chegar.<br />
A mussarela de búfala fresca, o Zaatar, o azeite.<br />
É gratificante vê-lo saborear os lanches.<br />
Admiro quem valoriza a hora de comer.<br />
<br />
Relaxa em banhos, com muito sabonete.<br />
Duchas quentes e, no fim, bem frias.<br />
Quando a porta se abre, o vapor perfumado invade o quarto. <br />
Nunca lembra de pendurar a imensa toalha. <br />
Faz parte. <br />
<br />
Fala baixo. Fala pouco. <br />
Falo por ele. <br />
<br />
Se arrisca na cozinha. <br />
Inventa, mistura, assa e acerta.<br />
É ousado. Oferece aos amigos. Enche a casa.<br />
Suja muita louça. Paninhos engordurados se acumulam sobre a pia.<br />
Me delicio com o cardápio do dia. Depois, arrumo a bagunça. <br />
É justo com o <em>chef</em>.<br />
<br />
Organiza roteiros a perfeição.<br />
Antes de partir, já sei até por quais ruas passarei.<br />
E no caminho, surgem os desvios.<br />
Ele muda a rota. Tem outras ideias. <br />
Como a vida deve ser. Sem muitos planos.<br />
<br />
Aprecia cada minuto do filho. De perto.<br />
Os anseios adolescentes. As transformações físicas.<br />
O amadurecimento. O primeiro amor.<br />
E se espanta com a rapidez do tempo.<br />
<br />
Por vezes fica ainda mais calado.<br />
Reflexivo. Antecipa o que, muitas vezes, nem chega.<br />
O olhar castanho, redondo, se esconde entre longas pestanas.<br />
Mergulha em livros. Mudo.<br />
Momentos que já aprendi a respeitar.<br />
Não foi fácil, confesso.<br />
<br />
São apenas cinco meses de casamento.<br />
E sigo desvendando esse cara.<br />
A rotina não me assusta. Revela quem ele é. <br />
Descobertas que só me fazem bem.<br />
-------------------------------------<br />
<br />
Casar é ter a oportunidade de conhecer a essência de alguém. <br />
De fazer alguém feliz.<br />
Diariamente.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-6856713677217650182013-11-02T17:59:00.002-02:002013-11-03T10:21:54.933-02:00ANSIEDADE<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpxZ3f-JTxWMXO9qTx__X_Uk_WjJT3kVupl9kAz9FG62lYibeS0X_4L2DemY6mtHEaJX_mk8GXW3OQbXi9Oqh5EuShZ3JZ_Js7G3Tc5qilGBOT2aHEZh4FBkR2o3RmmN4aYnn9k2fExzY/s1600/NEW+003.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpxZ3f-JTxWMXO9qTx__X_Uk_WjJT3kVupl9kAz9FG62lYibeS0X_4L2DemY6mtHEaJX_mk8GXW3OQbXi9Oqh5EuShZ3JZ_Js7G3Tc5qilGBOT2aHEZh4FBkR2o3RmmN4aYnn9k2fExzY/s1600/NEW+003.JPG" width="238" /></a>Vivo, logo, estou ansiosa. <br />
Estou ansiosa, logo, vivo.<br />
<br />
Ansiedade é sentimento que move. <br />
E fica entranhado na memória.<br />
Muitos não aguentam. <br />
Para mim, sempre foi combustível. <br />
<br />
Plantei uma muda, quando criança, em Búzios. <br />
Passei meses esperando o próximo verão para vê-la florir no canteiro. Em casa, imaginava que altura ela estaria. <br />
Se abelhas já estavam se alimentando do pólen. <br />
Se a planta já tinha envergadura para fazer sombra no gramado. <br />
No Janeiro seguinte, ela ainda nao tinha flores. Esperei mais um pouco.<br />
<br />
Aos 11, chamei os amigos para minha primeira festa "discoteca" no apartamento da mamãe. <br />
Comprei roupa nova e botas de borracha branca, um <em>must</em> para a época.<br />
Mal dormia pensando no momento em que, como aniversariante, teria o direito de abrir a sessão de <em>Karaoquê</em> cantando <em>Kid Abelha</em> para os convidados.<br />
Muitas vezes, o antes é melhor que a festa em si. <br />
<br />
Funciono bem sob pressão. Sempre deixei para estudar na madrugada anterior à prova. <br />
Botava o despertador para as duas da madrugada e ia, de pijama, para a sala silenciosa começar os exercícios.<br />
Sempre deu certo, mas, sentia uma angustia danada.<br />
E era delicioso.<br />
<br />
E no Natal?<br />
Será que vou ganhar a banheira <em>glamour</em> da <em>Barbie </em>que tanto sonho?<br />
A família colaborava para a expectativa infantil aumentar.<br />
Lá em casa, presentes só eram abertos à meia noite, em meio a bocejos dos pequenos.<br />
Chegada a hora, rasgava os embrulhos sem dó. Ignorava cartões ou pirulitos de brinde.<br />
Era mesmo o que eu queria! Os olhos brilharam e lá fui eu dar banho na boneca. Na hora. <br />
Lembro que encharquei de espuma o tapete persa da vovó. <br />
Mas, é que a <em>Barbie</em> estava louca para se banhar. Fazia muito calor. <br />
E eu, louca para estrear o mimo.<br />
<br />
Nem sempre minhas angústias foram sanadas do jeito que imaginei. <br />
<br />
Na adolescência, mandei carta de amor para o menino mais bonito da escola.<br />
A magrela aqui se arriscou.<br />
O papel de carta era caprichado. Com aroma e tudo.<br />
No dia seguinte, após uma noite sem dormir, o garoto me esnobou .<br />
Ainda fez graça com os corações que desenhei no envelope.<br />
Ao menos, meu coração bateu forte na noite anterior. <br />
É o que vale. <br />
<br />
Na festa junina do Clube fui escolhida como a noiva do evento.<br />
Minha mãe mandou fazer um vestido caipira de renda branca. <br />
Usei maquiagem nos olhos, véu e até buquê de flores do campo.<br />
Coisa séria para uma menininha de seis anos. Expectativa a mil por hora.<br />
No altar, o noivo, de chapéu de palha e bigodinho pintado a lápis preto, disse NÃO para o "enlace".<br />
O "padre" ,imediatamente, mandou prendê-lo na cadeia cenográfica da festa.<br />
Passei o resto da tarde brincando de corrida do saco e comendo milho verde.<br />
O moleque que não quis "casar" comigo é meu grande amigo hoje.<br />
Rimos sempre desse episódio.<br />
<br />
O tempo passou e veio a angústia do vestibular.<br />
Da profissão que escolheria. <br />
Olheiras profundas e constantes me acompanharam.<br />
Momento dos mais ansiosos.<br />
<br />
Me formei e vivi a expectativa de ser contratada na Rádio CBN.<br />
O primeiro estágio, o primeiro emprego, a gente nunca esquece.<br />
É uma provação. Uma aula de como se relacionar em uma empresa. Tensão dia após dia.<br />
A primeira vez que entrei no ar no rádio foi memorável. Outro dia cercado de ansiedade.<br />
Falei no microfone, fingindo estar firme, sobre as condições do trânsito no programa CBN Total.<br />
Adrenalina correu solta. Deu até uma tontura. <br />
<br />
Cresci e sigo, claro, flertando com a ansiedade.<br />
Não tenho medo dela. Dependo dela.<br />
<br />
Apresento um telejornal diário, longo, líder de audiência no Rio.<br />
Todos os dias "danço um ballet" diferente no estúdio.<br />
Será que vou segurar a emoção ao dar essa notícia tão triste?<br />
Será que o entrevistado vai parar de falar na hora certa? Terei que interrompê-lo?<br />
No elevador de acesso, peço sempre para que Deus bote as palavras certas na minha boca.<br />
É um desafio que, ao passar dos blocos do jornal, corre nas veias. Invade as entranhas.<br />
E me faz seguir em frente.<br />
<br />
Agora mesmo estou ansiosa com meu casamento. Me refiro, dessa vez, a um casório de verdade.<br />
A festa, no próximo fim de semana, será pequena, em casa.<br />
Mas, não deixa de ser uma comemoração marcante. Com foto, família e bem-casado.<br />
Estarei vestida de noiva, mas, ainda não fiz a prova final do vestido.<br />
Não sei se vai chover, se vai esquentar muito. <br />
Se a bebida será suficiente. <br />
Se vai todo mundo. <br />
Ah! Se o noivo vai dizer sim... Que é o mais importante...<br />
<br />
Estou feliz com tantas sensações. Durmo bem. Por incrível que pareça.<br />
<br />
Estou ansiosa, logo, vivo. <br />
Vivo, logo, estou ansiosa.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<em></em><br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com18tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-44904517949563374752013-08-03T19:25:00.003-03:002013-08-04T22:10:08.124-03:00Olhos Fechados<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0H7kgu8TxhSOP4tQlio7TAQ54uP0-cIHby1M3gZh-6AG4mfKmUthIIF5SkMgahinmAh5g3rL1rB35kNSM7WEIcGOkIg554J22E3chNzpQ6N2lLwkNNfKjgx9a65T8kUWXfvaC6LAPD7c/s1600/32531_401958035944_562905944_4218537_8230334_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0H7kgu8TxhSOP4tQlio7TAQ54uP0-cIHby1M3gZh-6AG4mfKmUthIIF5SkMgahinmAh5g3rL1rB35kNSM7WEIcGOkIg554J22E3chNzpQ6N2lLwkNNfKjgx9a65T8kUWXfvaC6LAPD7c/s200/32531_401958035944_562905944_4218537_8230334_n.jpg" width="150" /></a>Ficar em silêncio. De olhos fechados. Deitada, mas, acordada.<br />
<br />
Dia desses, por quarenta intermináveis minutos, me obriguei a fazê-lo.<br />
Ressonância magnética no crânio é prova de fogo para os claustrofóbicos.<br />
É preciso deitar sob um teto que, por pouco, não roça o nariz e com capacete imobilizador. <br />
Ao me deparar com o equipamento estreito, alertei o técnico de que seria um teste de resistência. <br />
De sobrevivência.<br />
<br />
_Puxa, Mariana! Cansei de te ver na TV em tiroteios e enchentes. Vai ter medo disso aqui?_disse ele.<br />
<br />
Fechei os olhos antes mesmo de a maca me enfiar no túnel.<br />
Estava determinada a não abrí-los até o fim. <br />
O que os olhos não vêem, o coração não sente.<br />
<br />
Tinha madrugado para trabalhar naquele dia. Estava cansada. <br />
Percebi de cara que seria impossível dormir ali dentro. A temperatura da sala de exame é abaixo de zero e o barulho da máquina, ensurdecedor.<br />
<br />
Foi quando, naquele ambiente estranho, vesti novos personagens. Lembrei de outros.<br />
Visitei recordações inexplicavelmente guardadas.<br />
E criei momentos.<br />
<br />
A imaginação é aliada poderosa em situacões difíceis.<br />
<br />
Primeiro tentei imaginar como seria ser cega. Concentrei nos ruídos, nos aromas. <br />
Experiência interessante que dá consciência de instintos pouco explorados.<br />
Logo desviei o pensamento. Fiquei angustiada.<br />
Não era mesmo hora de experimentar o exercício.<br />
<br />
Em seguida, lembrei da brincadeira de estátua da infância. Por várias vezes, fui campeã no pátio da escola. Ficava paradinha. Nem piscava. <br />
Só as cócegas feitas pelo coleguinha Afonso, um tanto malvado na época, me faziam mexer.<br />
Recordação divertida, mas, que me deu coceira na sola do pé. <br />
Ignorei a sensação bravamente. Nem teria como coçar, presa ali.<br />
<br />
Vieram então pensamentos mórbidos. <br />
Eu estaria morta, em meu velório, ouvindo tudo a minha volta.. <br />
Pessoas inesperadas foram se despedir de mim. Diziam palavras lindas em homenagem póstuma.<br />
Gente que eu nunca imaginei, chorou a minha perda.<br />
<br />
A criatividade decidiu, felizmente, me levar para momentos mais leves. <br />
Saltava entre lembranças, sem nenhuma conexão, com velocidade.<br />
Vieram à mente, as corridas nos campos verdes e cheirosos da Toscana.<br />
O desafio infantil de tocar com a barriga o fundo da piscina profunda do clube. <br />
O discurso otimista da taróloga que visitei na adolescência. <br />
Que loucura! Por que lembrei daquela mulher?<br />
<br />
Embalada pela percussão incessante do equipamento, me vi, de repente, aos pulos numa festa rave.<br />
Requebrava como uma periguete com o batidão. Nem sei dançar esse ritmo.<br />
Comecei a rir de mim mesma e o técnico interrompeu a viagem:<br />
<br />
_Mariana, você está se mexendo. O exame está tremido. Terei que repetir_<br />
<br />
A voz dele me trouxe de volta. Lembrei de onde estava.<br />
Entrei em pânico. Pensei em apertar a campainha e pedir para sair. Suava frio naquele frigorífico.<br />
Mas, sou moça adulta. Vivida e orgulhosa. Tinha que resistir.<br />
<br />
Foquei então em minha respiração. Visualizei o ar percorrendo o corpo, invadindo os pulmões e sendo expulso num sopro vigoroso. <br />
Há quanto tempo não me ouvia respirar.<br />
Falando em tempo:<br />
<br />
_Quanto tempo falta?_perguntei aos gritos.<br />
_Dez minutos_ disse o técnico.<br />
<br />
O exame estava demorando mais que o programado. <br />
Meu cérebro nunca tinha sido vistoriado antes.<br />
Seria eu um extraterrestre? Descobriram que não sou daqui?<br />
<br />
No tempo restante, refiz meu passeio imaginário, tratei as lembranças como sinais e pensei em atitudes. Mulheres são assim.<br />
<br />
_Quando levantar daqui, vou procurar o Afonso que me fazia cócegas na infância e nunca mais vi.<br />
Mergulharei até o fundo da piscina do clube.<br />
Dançarei até a festa rave acabar. Abraçarei os amigos inesperados que prestigiaram meu velório.<br />
Observarei mais. Apreciarei mais. <br />
<br />
Fiquei em silêncio. De olhos fechados. Acordada. Em um túnel gelado.<br />
E foi inesquecível.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-63383142923315037052013-07-11T18:17:00.000-03:002013-07-13T19:52:34.538-03:00Ah! O Carnaval...<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhodLhGP1P_pxwrQlwmqQOIoniCY5dU8dL4wv0vUbPXXRssx2n3VzPEf17x20dyOvsLxrzhvlB1m4x66QG2hyH9YqU0JA_nuXfrwpZeCp8VkMW9o15-ymBEBim-OFYxhbvcsA6EuHmvQ6Q/s1600/carnaval+4+003.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhodLhGP1P_pxwrQlwmqQOIoniCY5dU8dL4wv0vUbPXXRssx2n3VzPEf17x20dyOvsLxrzhvlB1m4x66QG2hyH9YqU0JA_nuXfrwpZeCp8VkMW9o15-ymBEBim-OFYxhbvcsA6EuHmvQ6Q/s1600/carnaval+4+003.JPG" width="200" /></a><br />
<br />
_Hoje vocês podem ficar acordadas até mais tarde_ disse minha mãe.<br />
<br />
Era Carnaval. O grupo especial desfilaria naquele domingo do verão de 1985.<br />
No quarto, já refrigerado, a cama espaçosa de Dona Maluh com lençol macio e mantas para esquentar os pés. No colchão ainda cabia, com folga, as três filhas falantes, o encarte do jornal com detalhes de cada escola, a caixa de bombom Garoto. <br />
O <em>Opereta</em> era meu. O amargo, da Fernanda, o <em>Alô Doçura</em>, da Ana Luiza.<br />
A certa hora da madrugada, eu lutava contra o peso das pestanas.<br />
Queria ter história para contar no dia seguinte. <br />
Me gabar de que tinha visto tudo até tarde.<br />
Queria ver a Tia Tanit desfilando. Os carros do Joãozinho Trinta. A bateria da Portela. <br />
<br />
O sambódromo sempre me atraiu. <br />
Quando virei jornalista, brincava, vez por outra, que um dia apresentaria a festa na TV.<br />
Como vêem, fui uma estagiária saliente.<br />
<br />
Sonhar não custa nada, como cantou Paulinho Mocidade. <br />
E palavra tem poder. Samba-enredo então, nem se fala.<br />
<br />
Chegou a hora neste Carnaval de 2013. E chegou na hora certa.<br />
A missão era narrar os desfiles do Grupo de Acesso. A Série A.<br />
Um desafio, afinal, a Globo nunca tinha exibido os desfiles das agremiações de sábado.<br />
Estreei logo com 21 escolas para apresentar. Algumas, desconhecidas do grande público.<br />
A expectativa na emissora, e fora dela, era grande.<br />
<br />
Alex Escobar foi o parceiro na empreitada.<br />
A dupla estreante, a priore, podia parecer heterogênea.<br />
Ele, torcedor do América, nascido em Bangu, exímio apresentador do Esporte.<br />
Eu, rubro-negra, da Lagoa, especialista em noticiar tiros e bombas... <br />
<br />
Ledo engano.<br />
Nos encontramos na paixão pelo samba, pelo espetáculo, pelo público que nos festejava nas comunidades. Foi entrosamento a primeira vista.<br />
Nos unimos também na vontade incontrolável de que tudo desse certo. Para todos. <br />
Antes do dia D, a caminho das incontáveis visitas às quadras, Escobar e eu éramos calouros de show,<br />
cantando sem parar os sambas mais remotos. Como foi bom rir das piadas infames do colega.<br />
Pobres motorista e produtor que nos suportaram meses no carro, desafinando pra cima e pra baixo. <br />
<br />
O estúdio Globeleza fica bem na entrada da Sapucaí. <br />
Na esquina onde os carros alegóricos apontam a passarela.<br />
Quando entrei de vestidinho para apresentar, lembrei do quarto da mamãe, bem refrigerado. <br />
No estúdio, era muito homem encalorado junto.<br />
Fui voto vencido no controle dos aparelhos de ar. <br />
Me enrolei numa echarpe de lã e mandei brasa. <br />
<br />
Foram duas madrugadas de diversão ao lado de bambas: os comentaristas Arlindo Cruz, Milton Cunha, Chico Spinoza e Mestre Odilon deram brilho à cobertura.<br />
A direção de Boninho deixou a dupla a vontade. Aí foi só gingar.<br />
Nos intervalos, a gente até se esquecia do pipi. <br />
Era só gargalhada e sambinha.<br />
E quando batia o cansaço, depois da décima escola, hora do energético. Levei latinhas para nós.<br />
Bastava buscar no gelo, no canto do estúdio.<br />
<br />
Aprendizado mesmo foi observar a tranquilidade do Escobar. <br />
Para ele tudo flui, tudo se resolve. Rápido.<br />
<br />
Eu estava longe dos lençóis de casa, nem tinha chocolate por perto e o encarte com as informações das escolas estava entranhado na massa cinzenta.<br />
Mas, a saliência da estagiária estava ali.<br />
<br />
Para narrar Carnaval, madrugada a dentro,<br />
é preciso sambar no salto feito mulata.<br />
Equilibrar pandeiro feito ritmista.<br />
Comandar a bateria feito o mestre.<br />
Sem atravessar. Sem atropelar. <br />
<br />
_Mãe, naquelas noite passei da hora de dormir.<br />
Não contei a história no dia seguinte. <br />
Narrei ao vivo. Para milhões de pessoas.<br />
<br />
Quanta honra. Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-15103911745165376442013-05-20T12:47:00.001-03:002013-05-20T13:58:16.742-03:00NOSTRA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR5x0z3OxJfsS4nHlUizcpKjV0D8Q_tzLjpwUljlIB-oahFZ5Fozco00IWVYpmUhhctS3mQ4XM6Oya7Dj9wDiNee6gTzJzVNL-W0NoxKhNSK6s6V83U6_0dYgcLgHSV1VUOhAIznr6a8o/s1600/italia+2+001.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR5x0z3OxJfsS4nHlUizcpKjV0D8Q_tzLjpwUljlIB-oahFZ5Fozco00IWVYpmUhhctS3mQ4XM6Oya7Dj9wDiNee6gTzJzVNL-W0NoxKhNSK6s6V83U6_0dYgcLgHSV1VUOhAIznr6a8o/s1600/italia+2+001.JPG" width="175" /></a>A Itália é nossa. <br />
<br />
Pela estrada, o perfume do vento.<br />
Da dama da noite da Toscana.<br />
Do azeite das olivas suadas ao sol.<br />
Do aparo da grama que voa.<br />
Das uvas raras que ainda vão brotar.<br />
Do chuvisco que evapora na terra seca.<br />
<br />
Não era o motor.<br />
Era o faro quem nos empurrava.<br />
<br />
A cada curva, uma cidadela debruçada.<br />
Rochedos que erguem a história.<br />
Guerras, conquistas e pestes.<br />
Árvores esguias e cabeludas como testemunhas.<br />
Praças e escadarias. Fontes e bicas. <br />
Altares e mármore travertino.<br />
<br />
Igrejas milenares e suas minucias vivas.<br />
Portais brilhantes. E tiros nas fachadas. <br />
Relicários de preces silenciosas.<br />
O padre de costas e a missa em italiano.<br />
Criptas e abóbodas.<br />
E a fé que converte ateus.<br />
<br />
Pecorinos e trufas.<br />
Taças e massas.<br />
Molhos e óleos.<br />
O tomate em cacho.<br />
Framboesa fresca na rua.<br />
E a fila do sanduíche de tripa.<br />
<br />
Jardins, estâncias e cores.<br />
Rosas brancas avançam na pedra.<br />
Papoulas trançam o campo selvagem.<br />
E no horizonte, o sol que se punha cor de rosa.<br />
Da adega, o néctar que manchava as bordas. As bocas. Os sorrisos.<br />
<br />
Gargalhadas entre amigos.<br />
Novos ou antigos. Sóbrios ou bêbados. <br />
Em mesa italiana, amizade é para sempre.<br />
E segredos também.<br />
Mas, os pratos são de todos.<br />
"Prove do meu. Você merece".<br />
<br />
Dias lentos. Ou rápidos demais. <br />
Tardes embriagadas de carinho.<br />
O cadeado de amor eterno na Ponte Vecchio<br />
Dança nas ruas de Roma. Moedas para o artista.<br />
E o som do acordeão na viela de Siena.<br />
<br />
A Itália é dos apaixonados.<br />
Dos curiosos que espiam propriedades privadas. <br />
Dos gulosos que experimentam sabores. <br />
Dos sensíveis à arte que surge a cada degrau.<br />
Dos que se emocionam repentinamente.<br />
Dos otimistas. <br />
<br />
A Itália é nostra, amore mio. <br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-6082151861480256602012-08-14T18:01:00.000-03:002012-08-15T11:08:04.068-03:00CARA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYAIDya3PhKYm3OpQVmO8iUnh_ZQRYq44S1Y7JQr2kVnmLn_Eu3D48e7smlmNkgZ1VUep3IRWh6Ht2W4MGRm2r4CwHmlsleXWexW4T_ND5TqDmuIPCdKlQ2DmKpSMAU-lW1rRfyYl1cxI/s1600/imagesCAZXORRP.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYAIDya3PhKYm3OpQVmO8iUnh_ZQRYq44S1Y7JQr2kVnmLn_Eu3D48e7smlmNkgZ1VUep3IRWh6Ht2W4MGRm2r4CwHmlsleXWexW4T_ND5TqDmuIPCdKlQ2DmKpSMAU-lW1rRfyYl1cxI/s1600/imagesCAZXORRP.jpg" width="175" /></a>Giro entre goles de vinho.<br />
Giro e me encanto por Ele. <br />
<br />
O deque fica claro ao pés da lua cheia.<br />
A pedra da piscina reflete as estrelas.<br />
<em>Me and Mrs. Jones</em> ecoa no bairro. <br />
O salto alto encrava entre as toras de madeira. <br />
E danço no escuro, descalça. <br />
Pés gelados no inverno fajuto ganham Celsius.<br />
<br />
Um olhar intrigante fita no lusco fusco.<br />
Nem o chapéu de panamá, muito menos o Ray Ban, te escondem de mim. <br />
Já interpretei sua tela. Enxerguei seus traços. <br />
<br />
Para estranhos, podes parecer sisudo. <br />
Para sortudos, és adorável. <br />
<br />
E ali, na frente dos grafiteiros Gêmeos,<br />
Tateando a textura opaca de Bechara,<br />
Nas ondas das tiras de jornal,<br />
Em meio ao pó da obra,<br />
a Arte sopra da alma a poeira da rotina, como diria Picasso.<br />
<br />
Me dá de presente, um quadro diferente. Inesperado. <br />
Com a benção da bela escultura da santa.<br />
<br />
Na parede, a máscara de boca carnuda me espia. Desafia. <br />
Pede espaço no coração, por hora, lacrado.<br />
O amontoado de chips sobre o verde fluorescente ilumina a esperança.<br />
Remonta minha cidade preferida.<br />
<br />
Com delicadeza, a faca do chef corta os cogumelos.<br />
E a frigideira alaranjada evapora o aroma da trufa. <br />
A obra-prima ganha raminho colhido na hora. <br />
<br />
Mais vinho. Mais dança Mais arte. <br />
A mesa da sala, suas quinas e curvas, me abriga.<br />
<br />
O abraço é longo. <br />
Dura bem mais que "The Dark Side of the Moon". <br />
Pena. O sofá espaçoso vai sair dali...<br />
<br />
Na moto, o vento no rosto encoraja. <br />
Passeio que deixa marca no tornozelo. <br />
No fim do jantar, o aperto no braço. <br />
<br />
Angra parece eternidade. Parece paraíso. Parece dias num só.<br />
Na estrada escura, Ella Fitzgerald nos acompanha.<br />
Seu silêncio no percurso me faz pensar. <br />
<br />
Quem é o "CARA"? O que há comigo?<br />
Ainda não sei dizer... <br />
<br />
Por hora,<br />
Giro e me divirto entre goles de vinho.<br />
Giro e me encanto por Ele. Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-40960596831043075042012-05-15T17:50:00.000-03:002012-12-03T15:02:18.574-02:00DO VENTO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKuovJ2kHSEzacbpXCXy8kRhyphenhyphenG06dxKIsPYTwcD3rrISZR3NrrdjxEw6O7weqjkOrWt683_rdi68mLwuU3oiVqNbiggZol4X7z68T8p_QAcpj9dGRsU6lCnMrEKKKkcGKoKr6e04uRWas/s1600/carcassonne+2+075.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="131" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKuovJ2kHSEzacbpXCXy8kRhyphenhyphenG06dxKIsPYTwcD3rrISZR3NrrdjxEw6O7weqjkOrWt683_rdi68mLwuU3oiVqNbiggZol4X7z68T8p_QAcpj9dGRsU6lCnMrEKKKkcGKoKr6e04uRWas/s200/carcassonne+2+075.JPG" width="200" /></a></div>
De mim.<br />
<br />
Vai fugindo de mansinho.<br />
Sem dizer para onde.<br />
Vai deixando o cantinho.<br />
Onde o amor se esconde.<br />
<br />
Não penso mais em ti.<br />
A paixão se enxugou.<br />
Nossa música, esqueci.<br />
Seu cheiro evaporou.<br />
<br />
Meu peito está vazio.<br />
Coração que bate lento.<br />
<br />
Mas já sinto arrepio.<br />
Do bem que vem no vento. <br />
<br />
Quero o que não vi.<br />
Anseio quem não conheço.<br />
Hoje amanheci.<br />
Farejando seu apreço.<br />
<br />
Surja devagar. Revele o seu jeito.<br />
Conquiste um lugar. Aqui no meu peito.<br />
<br />
Cisma de mulher,Ou pura intuição.<br />
Venha o que vier,<br />
Termine essa canção.<br />
<br />
Comigo.<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com21tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-26492736134379935352012-02-07T18:17:00.001-02:002012-02-07T19:28:16.086-02:00Cães e Escombros<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF_7oUvCOoWN_YB7Qo65rIDGFr6-TrwbqVJt6rSO4t4ec_kO7jHuGFFEaUZqJrJuaZcqrqvEBY4lZzKIhjauxa1DUhh88YsvSW6VcftwAgjfTXXz-Bv46pQmFLmpvy7t84G_9mIMG6ySw/s1600/boris.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="103" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF_7oUvCOoWN_YB7Qo65rIDGFr6-TrwbqVJt6rSO4t4ec_kO7jHuGFFEaUZqJrJuaZcqrqvEBY4lZzKIhjauxa1DUhh88YsvSW6VcftwAgjfTXXz-Bv46pQmFLmpvy7t84G_9mIMG6ySw/s200/boris.jpg" width="200" /></a></div>
<br />
<br />
Três construções ruíram no Centro.<br />
Vigas não quebraram. <br />
Não racharam. <br />
Se desmancharam em pó fino. <br />
Em segundos.<br />
<br />
Um amontoado estranho na esquina do Teatro Municipal.<br />
Montanha de poeira incandescente em frente à Cinelândia. <br />
Fumaça, ora negra, ora branca, ventava por fendas soterradas.<br />
Cabos de energia em curto. Bujões de gás. Papéis chamuscados. <br />
E o trabalho de uma vida inteira irreconhecível.<br />
Nenhum sinal de sobreviventes .<br />
<br />
Em meio à angústia das famílias, <br />
ao olhar estarrecido dos vizinhos, <br />
ao suor dos bombeiros, <br />
à apuração dos repórteres mascarados,<br />
Dois garimpeiros sem pá. <br />
<br />
Chegaram de caminhão.<br />
A priore, ficaram longe, amarrados, <br />
Se distraindo com uma bolinha de borracha.<br />
Era preciso aguardar o descanso das escavadeiras.<br />
<br />
No intervalo, seguiram para o entulho. <br />
Uma busca precisa. Silenciosa. Limpa.<br />
Os dois percorrem a área rapidamente.<br />
Obstáculos perigosos são vencidos aos pulos.<br />
Com rabinho abanando. <br />
<br />
_Vai lá, Boris! Cadê? Cadê?_ instiga o treinador.<br />
<br />
O trote pelo cenário da tragédia é interrompido de repente. <br />
Boris pára e retorna ao trecho já checado pelo focinho.<br />
Testa mais uma vez o mesmo ponto. E segue o passeio.<br />
<br />
Segundos depois, arrasta a pata dianteira sobre outra laje.<br />
Late e salta. <br />
<br />
A brincadeira do labrador achara um homem.<br />
Um morador de rua já sem vida. <br />
Enterrado antes de morrer. <br />
<br />
Enquanto as equipes retiravam terra para resgatar o corpo, parentes choravam e a imprensa se pasmava com o estado daquele pobre senhor.<br />
<br />
O cão seguia latindo.<br />
Talvez ansioso para seguir na brincadeira. <br />
<br />
Boris encontrou outros três corpos naquela tarde.<br />
<br />
No fim do dia, ganhou biscoito, pote com água fresca e afago da mãe de um dos jovens encontrados .<br />
<br />
_Graças a esse cachorro, meu coração se acalmou. _ disse Dona Yaçanã.<br />
<br />
O filho dela não estava vivo. <br />
<br />
_Agora, ao menos, ele terá enterro digno. Era um bom homem. Não merecia terminar aqui. <br />
Será meu último carinho de mãe._<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-2280757406970438902012-01-11T18:17:00.002-02:002012-12-23T23:57:12.376-02:00BANCADA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikrD8xO4GPU1QOXRaobzZJv68ZOY20dCZYRTT0ts5PjUw7Kh2EAyuiY7p4GT2VqjVeUUu1dtC1B60EU9vIjwW25TQLl5TkcM7KUoVYZUmnFlLxFy8bJyC1Wd4CznHvHXAVPmMSOTmHNfo/s1600/404846_10150442894585964_674000963_8736303_621760376_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikrD8xO4GPU1QOXRaobzZJv68ZOY20dCZYRTT0ts5PjUw7Kh2EAyuiY7p4GT2VqjVeUUu1dtC1B60EU9vIjwW25TQLl5TkcM7KUoVYZUmnFlLxFy8bJyC1Wd4CznHvHXAVPmMSOTmHNfo/s320/404846_10150442894585964_674000963_8736303_621760376_n.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Na carreira que escolhi, promoções são públicas. <br />
Estreias, encaradas ao vivo.<br />
Desafios, via satélite.<br />
<br />
Era sábado. Era cedo.<br />
Segui para a emissora com jornais, aindas quentes, embaixo do braço.<br />
A chuva no Norte, as obras da cidade, os ensaios de Carnaval. <br />
Tudo na ponta da língua, na vista, entranhado na massa cinzenta.<br />
<br />
No camarim, Ronald, o maquiador, animado ao som de funk.<br />
Olhos concentrados iam se colorindo de sombra e rímel.<br />
Entre pinceladas, um filme dos últimos anos:<br />
Da jovem comunicativa escolhendo a profissão, da estagiária do rádio, da intrépida repórter de tv.<br />
<br />
Lembrei do carpete da casa do meu pai.<br />
Eu me sentava no chão para ver o RJTV, logo depois da série de desenho animado. <br />
A TV, grande e larga, tinha antena escorada na estante lateral e botões giratórios de volume. <br />
Enquanto vestia as barbies, ouvia, caladinha, as notícias na voz de Fatima Bernardes, Leilane Neubarth, Marcos Hummel...<br />
Não podia interromper Carlos Fernando, interessado nas manchetes do dia. <br />
<br />
Anos depois, quem diria, naquele mesmo apartamento, <br />
o silêncio viria com meu "boa tarde".<br />
E o estúdio seria meu carpete.<br />
Não vesti bonecas. Vesti-me de apresentadora.<br />
<br />
Já pronta, olhei o espelho que já refletiu tantos ídolos. <br />
Encarnei a nova personagem. <br />
<br />
Jorge Fernando, o diretor de TV, era o entrevistado do dia.<br />
No elevador, ele soube que seria minha primeira vez.<br />
Me recomendou sacudir as mãos até deixá-las dormentes.<br />
Uma espécie de catarse que libera e busca energia no ar.<br />
Foram 12 andares quebrando a munheca. <br />
<br />
No alto do prédio, um estúdio de cenário acolhedor.<br />
A vista deslumbrante da cidade onde nasci.<br />
Os pontos turísticos abençoando.<br />
E a bancada, me esperando.<br />
<br />
Jornal no ar. Coração em compassos diferentes.<br />
Meu foco fechado em cada bloco. Até nos intervalos.<br />
<br />
Por um momento, senti certo orgulho de mim. <br />
Orgulho pela conquista da confiança. <br />
Minha e dos outros.<br />
Estava lá a carioca apaixonada, cheia de microfone. <br />
Cheia de voz. Sozinha.<br />
Noticiando as mazelas do Estado.<br />
Cobrando atitudes das autoridades.<br />
Celebrando também a alegria de morar aqui.<br />
<br />
É por isso que fiz jornalismo. <br />
<br />
Na carreira que escolhi, os desafios são via satélite.<br />
<br />
Que sejam... <br />
<br />
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------<br />
<br />
Dedico o texto a Carlos Fernando Gross (meu pai)<br />
Cecília Mendes (editora-chefe do RJTV) e<br />
Bernardo Jablonski (meu eterno professor de teatro).Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com62Rio de Janeiro - RJ, Brasil-22.9035393 -43.2095869-23.3716048 -43.8413009 -22.435473799999997 -42.577872899999996tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-46999453592076141082012-01-02T16:49:00.001-02:002012-01-02T18:36:52.573-02:00A Alegria Pode Ser Simples<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-5Lfks2A3Rvg/TwIOiDaKQSI/AAAAAAAAAYs/a0i6tpycVJE/s1600/reveillon.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-5Lfks2A3Rvg/TwIOiDaKQSI/AAAAAAAAAYs/a0i6tpycVJE/s1600/reveillon.jpg" /></a></div>
Não havia grãos desocupados. <br />
A chuva caía sem dó. Sem intervalo para evaporar.<br />
Penteados, tecidos caros, perfumes... <br />
Desmanchavam na areia. <br />
Diluíam na correnteza.<br />
Como oferendas para Iemanjá.<br />
<br />
Eram milhões. <br />
Ensopados. Mas, de verdade. <br />
Revelando no rosto, de maquiagem derretida, <br />
a marca do tempo.<br />
Que ia passar, mais uma vez, em breve. <br />
Que tinha que mudar para melhor dali pra frente. <br />
<br />
Se o minuto fosse efêmero para os pedidos,<br />
A prece poliglota se apressava.<br />
Um sussurro universal na praia famosa. <br />
Em inglês, o americano rezava por saúde.<br />
Em francês, o belga gritava por dinheiro.<br />
E em bom português, o brasileiro evocava a paz ao som de atabaques. <br />
<br />
Cada qual com seu Deus, seu Orixá, seu Messias. <br />
Crenças ecoavam sem fronteiras.<br />
Sem trauma, sem passado.<br />
Em Copacabana, a fé é ecumênica.<br />
Qualquer religião tem o mar como testemunha. <br />
<br />
No altar improvisado do Candomblé, a vela apagou.<br />
O isqueiro do judeu deu luz à chama a tempo do ritual. <br />
A emoção da carola contida com o lenço do angolano. <br />
A dança de umbanda sacudia os gringos. <br />
<br />
Afeto livre, a céu aberto.<br />
O jovem gay abraçou o namorado a meia noite.<br />
A adolescente teve a primeira bitoca roubada.<br />
O casal de idosos festejou mais um ano de amor com beijo comovente.<br />
A criança chorou com o barulho dos fogos. <br />
E críticos picharam a pirotecnia a cada explosão.<br />
<br />
Mais chuva, pés enrugados, banheiros afastados, multidão, cerveja cara, sapatos perdidos. <br />
<br />
E a felicidade ali. Escancarada. <br />
<br />
A repórter passou o Reveillon trabalhando.<br />
Viveu a virada observando.<br />
Tentando entender o motivo do entusiasmo.<br />
Molhada com a água que escorria do céu. <br />
<br />
Meu ano chega com esperança. <br />
Com descobertas. Com alma lavada.<br />
Desapegada. <br />
<br />
Sim.<br />
A Alegria pode ser simples.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-14036651474971459742011-11-01T18:16:00.021-02:002011-11-04T00:57:26.953-02:00O QUE SEI ATÉ AGORA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhndfAUMhDH0vZG8e_Qc1vqb329X1hPWfEvw6Tq19K_jh_6hB-aoeS2aznc-8-Ju3rzkrTeH8F_l48mYuAp2PUL6f_7gnH4DXR96haKeB-qXhyphenhyphen5GMQUw7Wxj7l7N5za6il1gLXY4N-HeLs/s1600/IMG_1076.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhndfAUMhDH0vZG8e_Qc1vqb329X1hPWfEvw6Tq19K_jh_6hB-aoeS2aznc-8-Ju3rzkrTeH8F_l48mYuAp2PUL6f_7gnH4DXR96haKeB-qXhyphenhyphen5GMQUw7Wxj7l7N5za6il1gLXY4N-HeLs/s200/IMG_1076.JPG" width="133" /></a></div>
Sei de mim. Ah! Como sei. <br />
<br />
Tenho medo de avião. De barata. De injeção na veia. De galinha.<br />
Não sei trocar lâmpada. Dirijo bem, mas, não gosto de estacionar.<br />
Faço um feijão gostoso. <br />
Adoro amigos em casa.<br />
Evito locais subterrâneos.<br />
Sou louca por jasmim. <br />
Aprecio um cangote perfumado. Sem exageros.<br />
Um banho fervendo. Água de alfazema, camisola velha e travesseiro baixo.<br />
Espuma do sabonete. Spray de chantily. Roupa de linho. Nó de lenço. Óculos escuros. Meia felpuda. Lareira. Blush rosado e rímel. Muito rímel.<br />
<br />
Detesto o som incoveniente: Da moto barulhenta. Da mulher infeliz. De quem fala gritando. <br />
Do vizinho vascaíno. Do alto- falante do ferro-velho que me acorda aos sábados.<br />
Fujo dos grudentos. Dos carentes. Das cobranças. <br />
Das maledicências.<br />
<br />
Gosto de gente boa. Boa gente. Gente doida. <br />
De excentricidades. De gratidão. De tiradas rápidas.<br />
Do afago de estranhos. De bobagem.<br />
De rir sem controle em horas impróprias.<br />
Da memória seletiva. Que guarda o que é bom. <br />
Em detalhes.<br />
<br />
Vivo de saudade. Do que vivi. Do que ainda não vi. <br />
E rio com histórias bem contadas. <br />
Rio de mim. Sempre.<br />
Celebro a descoberta de virtudes. O humor desmedido.<br />
A amizade incondicional. Antiga ou nova. <br />
O pêssego maduro. A cama bem feita. O nascer do sol. <br />
O almoço com meu pai aos domingos. <br />
A comida feita por minha mãe.<br />
Uma taça de vinho tinto e Madeleine nos ouvidos. <br />
Em casa. Sozinha.<br />
<br />
Torço por todos. Por tudo. Pelo otimismo sem motivo.<br />
Não peço nada a ninguém. Só às vezes.<br />
Tenho mau humor de manhã. Fome à tarde. <br />
Pés, irremediavelmente, gelados o dia todo.<br />
Sinto remorso pela planta que esqueci de molhar.<br />
Por ter abandonado, mais uma vez, a academia.<br />
Por não ter abraçado minha avó no almoço.<br />
Por não estar mais tempo com meus sobrinhos. <br />
Por não ter dito para o cara o que sentia naquela noite.<br />
E tenho inveja, claro. Todos temos. <br />
<br />
Lido bem com críticas. Com os enganos da minha intuição. Com meus cabelos brancos, mas, detesto as olheiras.<br />
Detesto, muitas vezes também, meu jeito inquieto. Minha correria. <br />
A desatenção nata que esquece o celular na geladeira.<br />
<br />
Sou de poucas coisas. Poucas marcas. Poucos sonhos.<br />
Quero mais é boiar em Búzios. Mergulhar em Ipanema. Sambar na laje. Cantar no chuveiro.<br />
Fazer boas coberturas jornalísticas.<br />
E, quem sabe, ter filhos.<br />
<br />
Estou em dúvida sobre o discurso que farei, daqui a pouco, no casamento da melhor amiga.<br />
Não sei se um dia escreverei um livro, mas, devo plantar uma árvore esta semana.<br />
Não sei se troco meu sofá. <br />
Se vou ao show do Sting nas férias. <br />
Muito menos se casarei com o aquele que deve ser o amor da minha vida.<br />
Não sei dizer. Não sei de nada.<br />
<br />
Só sei de mim. <br />
Ah! Como sei... <br />
<br />
Por hora, já é suficiente.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com42tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-25288121240268467582011-10-11T17:59:00.005-03:002011-10-12T20:24:31.506-03:00Incondicional<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgenDjPYKEedWOTUKhpImb-cJqwUpeUmeNL-8dJgyNSc7ZhwQY-vEco_r3nqbYvJMyidDIYRrVcas2ExN1czY3-9bH98lB4Z3PsU3V4-PbQmgx10VrhADe2fv3_VHnnW9ai7zH24-ejjsw/s1600/PQAAAHmfZBqruG7zgbDBtgpxDRysB6GWeVIoY7VWVbyv_5ypJkPf0YaPX1xOd12l9TGX3xvgc96uJSSPZz_aI1M31vkAm1T1UO--mLJs_E2pZiTLWSN-OqlVIcgd.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgenDjPYKEedWOTUKhpImb-cJqwUpeUmeNL-8dJgyNSc7ZhwQY-vEco_r3nqbYvJMyidDIYRrVcas2ExN1czY3-9bH98lB4Z3PsU3V4-PbQmgx10VrhADe2fv3_VHnnW9ai7zH24-ejjsw/s200/PQAAAHmfZBqruG7zgbDBtgpxDRysB6GWeVIoY7VWVbyv_5ypJkPf0YaPX1xOd12l9TGX3xvgc96uJSSPZz_aI1M31vkAm1T1UO--mLJs_E2pZiTLWSN-OqlVIcgd.jpg" width="200" /></a></div>Joana, de onze anos veio de Roraima. <br />
Francielle, de dezoito, do Amapá.<br />
A família de Morgana era do Rio mesmo. <br />
Mas veio toda.<br />
Doze parentes.<br />
<br />
Calçada da Rua das Oficinas, Engenho de Dentro, ala Norte do Estádio João Havelange. <br />
O endereço deles e de mais dezenas de pessoas durante cinco dias. <br />
Um acampamento de obsessão. <br />
O alvo de toda a energia despendida é um jovem, muito jovem, cantor em ascensão.<br />
<br />
Você que lê este texto já sabe quem é. <br />
Até meu pai conheceu, depois da passagem avassaladora de Bieber pelo Brasil.<br />
E pelos jornais.<br />
<br />
Sem banheiro, sem colchão, sem sombra. Resistiram ali até a abertura dos portões.<br />
E tinham forças para cantar quando apontava o microfone.<br />
Correr quando passava um helicóptero.<br />
Chorar quando chegava uma van. <br />
<br />
Em três dias de cobertura, aprendi as músicas, decorei o nome do cão, descobri a comida preferida e até a cor predileta do cantor. Mais do que isso:<br />
<br />
Vi do que é capaz um fenômeno das massas. <br />
<br />
Na minha adolescência, gostava do A-HA e, principalmente, do vocalista do grupo. <br />
Tinha um pôster na porta do quarto. Os discos, como trofeus, na mesa de cabeceira. <br />
As letras na ponta da língua. Só.<br />
Não era como as meninas da porta do Engenhão. Não era mesmo.<br />
<br />
Elas são mais. Querem mais. Sonham mais.<br />
E têm o apoio dos pais.<br />
Ou dos maridos.<br />
<br />
Encontrei um senhor sentado na cadeirinha de praia no meio da fila. Exausto.<br />
Na TV, ao vivo, me disse que guardava o lugar para a esposa. <br />
Maria Vanúbia o convencera a ficar ao sol, ao relento, para ver o menino de perto. E ele foi. <br />
Estava bêbado de Bieber. <br />
Só com muita cachaça mesmo.<br />
<br />
Morgana gastou as economias para levar as duas filhas.<br />
Torrou os níqueis e as forças. <br />
Na hora do show, dormiu encostada na viga do palco. <br />
As filhas mal ouviram as músicas. Só gritaram.<br />
E saíram felizes da catarse. <br />
<br />
Eu mesma fui seguida, durante horas, por três meninas que cismaram com uma ideia maluca. <br />
O trio acreditava que eu iria estar com o astro. Que fora ali para entrevistá-lo.<br />
<br />
_ Se você entrar no Engenhão, não entrará sozinha. Nós vamos com você. Não tem jeito._ ameaçaram.<br />
<br />
Desiludidas, acabaram tirando uma foto comigo mesmo.<br />
<br />
Do alto de meu pragmatismo, invejo esse olhar incondicional pelo desconhecido. <br />
Invejo a dedicação desaforada pelo inalcansável.<br />
A loucura juvenil que dispara corações.<br />
<br />
Essa força estranha só tenho mesmo é pela vida. <br />
E, mesmo assim, por vezes, com certa preguiça. <br />
<br />
_E Bieber? Cantou mesmo?_ perguntei na saída.<br />
<br />
_ Não importa!_ disseram as fãs, em couro. <br />
<br />
Entendi, meninas. Entendi.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com14tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-83799523254884359972011-09-20T19:05:00.000-03:002011-09-20T19:05:57.237-03:00SalgueiroTiros anunciavam o alvorecer no Salgueiro.<br />
O Morro da Tijuca, do samba, do bamba.. Em guerra.<br />
<br />
Era o segundo dia de 2001.<br />
<br />
Traficantes rivais disputavam território.<br />
Famílias e repórteres em madrugada encurralada.<br />
Barracos e bares fechados. <br />
Então repórter da Rádio CBN, me encolhi na soleira de um sobrado.<br />
Balas triscavam a fuça, como varejeiras na orelha do boi. <br />
<br />
Três horas ao som dos disparos.<br />
<br />
Os fuzis se calam. <br />
Moradores também.<br />
<br />
Saio da trincheira. <br />
Desço a ladeira apressada.<br />
Tão íngreme quanto a parede, crivada de balas. <br />
Zumbido constante no ouvido.<br />
Trauma eterno na memória.<br />
E mais uma reportagem violenta para narrar.<br />
<br />
Passei aquela semana falando sobre o caso.<br />
Comigo mesma. <br />
Decidi não contar em casa o que vivi. <br />
Eles não entenderiam. <br />
<br />
Também não me atrevi a subir o Salgueiro novamente.<br />
Na saída, fiz juramento no pé do Morro.<br />
<br />
No último sábado, quebrei a promessa. <br />
Dez anos depois.<br />
<br />
A reportagem era sobre uma festa. Um ano de ocupação policial.<br />
Na subida, a cada curva, a pincelada de um retrato.<br />
A imagem de mim mesma refeita na lembrança.<br />
Enxerguei a iniciante assustada, à perfeição. <br />
Em cada esquina.<br />
Até o cheiro de pólvora ventou do passado.<br />
<br />
Encontrei a favela receptiva. <br />
Com bandeirinhas e crianças empurrando ladeira acima.<br />
Com Zico em campo na pelada com os moleques.<br />
<br />
A menininha no banho de mangueira no quintal.<br />
O aroma do feijão no fogo.<br />
Pontos de observação do tráfico eram lajes. <br />
Apenas lajes. <br />
E roupas penduradas com esmero por Dona Áurea, quarenta anos de Salgueiro. <br />
<br />
Debruçada no tanque, profetizou:<br />
<br />
_Nasci e vou morrer aqui. Não largo o Morro por nada.<br />
<br />
E desta vez, o som do Salgueiro foi diferente. <br />
Foi canção de Herivelto:<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div>"<em>Tem alvorada, Tem passarada<br />
Ao alvorecer,<br />
Sinfonia de pardais<br />
Anunciando o anoitecer<br />
Alvorada lá no morro que beleza"</em><br />
<em><br />
<br />
<em><br />
</em><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi42iqNcsk5Vm_UHtdhTnhlLfNd3BBfRsEvT4mAHRuPt4pDVzA0FZ2kcKvBySdSnVfz84KIyY61FlhEhS_XsZU8IMQQh2iHW0A0lckE7Ru0ruQitK08XTbMnGm43FR08e-UlTAfdJah21Y/s1600/Zico+001.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="149" rba="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi42iqNcsk5Vm_UHtdhTnhlLfNd3BBfRsEvT4mAHRuPt4pDVzA0FZ2kcKvBySdSnVfz84KIyY61FlhEhS_XsZU8IMQQh2iHW0A0lckE7Ru0ruQitK08XTbMnGm43FR08e-UlTAfdJah21Y/s200/Zico+001.JPG" width="200" /></a></div><em><br />
</em></em>Volto já, Salgueiro. Volto já. <em> </em>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-2300270189451702832011-08-30T19:45:00.006-03:002011-08-31T22:22:54.738-03:00DE REPENTE<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-PWP-Ia7nUmWs7v5UgAJ0XoZDpwjLP6jAUFuxn2d651aslvAqVJKKBQSzj1_CY8UJaFa71aX4DOjcSFfugLriezuK7x8g76d92UVUtXVecxYnU6z13AFzfZg3UYOGloBhNgAEP201UXg/s1600/PARQUE+005.JPG" imageanchor="1" style="clear:right; float:right; margin-left:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="200" width="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-PWP-Ia7nUmWs7v5UgAJ0XoZDpwjLP6jAUFuxn2d651aslvAqVJKKBQSzj1_CY8UJaFa71aX4DOjcSFfugLriezuK7x8g76d92UVUtXVecxYnU6z13AFzfZg3UYOGloBhNgAEP201UXg/s200/PARQUE+005.JPG" /></a></div><br />
É lindo o futuro que chega.<br />
De repente.<br />
<br />
Rápido como chama da vela de aniversário.<br />
Um sopro que sela o tempo aos aplausos.<br />
<br />
E eu, bato palmas para a vida.<br />
<br />
Que cresce no ventre de Antonia.<br />
Que engatinha na sala de Roberta.<br />
Que desliza no calçadão para Olivia. <br />
Dança no colo de Ana Luiza.<br />
De repente.<br />
<br />
Minha cidade prepara o amanhã.<br />
Rio caótico que se vai aos poucos. <br />
Em contagem regressiva.<br />
<br />
Bendito o futuro que chega. <br />
De repente. <br />
<br />
Minha amiga Mariana planeja o para sempre.<br />
A noiva enxerga adiante.<br />
Em contagem regressiva.<br />
<br />
Promissor futuro que chega.<br />
De repente.<br />
<br />
Tolice imaginar o que virá.<br />
Bom mesmo é ver chegar.<br />
De perto.<br />
<br />
Meu amanhã é florido.<br />
Como o bougainville carregado da varanda.<br />
Não conto mais os dias.<br />
Vejo vindo.<br />
<br />
É lindo o futuro que chega.<br />
De repente. <br />
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-32799511113206871122011-08-27T18:17:00.020-03:002011-08-30T16:55:38.995-03:00ENCONTROS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcAA6E4h0cEzK2LNzYuwaK1DZlUko-Q0VtFlGx1UcBsuDKII10JEGtjO7SOTp2pddDsBf75Xf4CmuLOXiiIQL3F3nybx1qhpgAXP6SlQLn9FMs_GOWAM-oJVU4sdkCyIxa6Qt2tysYRns/s1600/IMG_3422.jpg" imageanchor="1" style="clear:right; float:right; margin-left:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="150" width="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcAA6E4h0cEzK2LNzYuwaK1DZlUko-Q0VtFlGx1UcBsuDKII10JEGtjO7SOTp2pddDsBf75Xf4CmuLOXiiIQL3F3nybx1qhpgAXP6SlQLn9FMs_GOWAM-oJVU4sdkCyIxa6Qt2tysYRns/s200/IMG_3422.jpg" /></a></div><br />
Ser repórter é celebrar encontros.<br />
Pautas podem ser presentes.<br />
Divinos.<br />
---<br />
<br />
Eram representantes do tradicional folclore de Campina Grande.<br />
Saias de chita colorida, rendas e flores. Ternos engomados.<br />
Dança junina que gira a alma. <br />
Casais se entrelaçam, formam um desenho. Uma explosão. Um quadro abstrato.<br />
Entrevistei o grupo outro dia. <br />
<br />
Com a câmera já desligada, aceitei convite para dançar.<br />
Fui para a roda com os mestres. <br />
Dois minutos de delírio. Meu e da equipe.<br />
---<br />
<br />
No parque infantil, na Baixada Fluminense, engenheiros vistoriavam brinquedos. Atrações que tantas vezes invadiram meus sonhos. <br />
Encheram minhas tardes.<br />
<br />
Reportagem entregue. No ar.<br />
Sobrou tempo. Que tal um passeio nostálgico no carrinho bate-bate? <br />
Lá fomos nós. Crianças de blazer. Cheias de conta para pagar.<br />
---<br />
<br />
Virei criança de novo ao visitar o Projeto Reação na Rocinha.<br />
No tatame, meninos e meninas de quimono aprendendo a lutar.<br />
Cinco deles, não queriam fazer o aquecimento.<br />
<br />
_Só se a tia for...<br />
<br />
A "tia", em questão, era eu.<br />
<br />
Sapatos de salto no canto. Corri com os pequenos.<br />
Aqueci meu coração.<br />
---<br />
<br />
Frente a frente com Alcione. <br />
Aos seis anos, era desinibida o bastante para imitar a marrom.<br />
A versão mirim de "Garoto Maroto" era aplaudida na sala.<br />
Como não contar tal ousadia para a própria?<br />
<br />
Depois de gravar, revelou-se a fã de outrora.<br />
Cantamos o refrão juntas. Homenagem da diva à infância desafinada.<br />
---<br />
<br />
Na Cidade de Deus, fui eu quem se surpreendeu com um imitador.<br />
João Marcio, de onze anos, andava pelas ruas descalço com a pipa em punho.<br />
Se aproximou do carro e perguntou:<br />
<br />
_Mariana Gross tá aí?<br />
<br />
Quando me viu, arregalou os olhos.<br />
Sim, aquele menino abusado me imitava. E bem.<br />
Uma surpresa rara.<br />
<br />
Fim da matéria. Nosso carro se afasta no caminho de terra.<br />
E na última curva, pelo vidro de trás, vejo o menino sorrindo.<br />
---<br />
<br />
Ser repórter é celebrar encontros.<br />
Pautas podem ser presentes.<br />
Divinos. <br />
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-16232819779830556892011-07-11T17:40:00.010-03:002011-07-22T23:12:43.990-03:00GIZ<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiN_btTJ_ngJWsTzeakSv1p_IysRkDSQbVR_mrT5QGuYXH-6VtvZbN8Cyq7eM6lEPlPzUZ2sR2NFZ7zKobI4dsxDgXRKT-7OMkfQE4h0kkrK2WWQujCzDTSUl5FD-QwxRzCJflH8hmTcCY/s1600/imagesCA1S6DAQ.jpg" imageanchor="1" style="clear:right; float:right; margin-left:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="153" width="128" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiN_btTJ_ngJWsTzeakSv1p_IysRkDSQbVR_mrT5QGuYXH-6VtvZbN8Cyq7eM6lEPlPzUZ2sR2NFZ7zKobI4dsxDgXRKT-7OMkfQE4h0kkrK2WWQujCzDTSUl5FD-QwxRzCJflH8hmTcCY/s200/imagesCA1S6DAQ.jpg" /></a></div><br />
Outro dia descobri que te amei.<br />
<br />
Seguia na mesma rotina.<br />
No rádio, a canção de Jobim.<br />
Um rosto veio à retina.<br />
Olhar que não coube em mim.<br />
<br />
Repleta de ti, reli seu jeito.<br />
Carta aberta de memórias.<br />
Escrita a giz em meu peito.<br />
Talhada em belas histórias.<br />
<br />
Escavei sentimento antigo.<br />
Que não sabia da existência.<br />
Amor que ficou de castigo.<br />
Lacrado em penitência.<br />
<br />
Marretei sensação encoberta.<br />
Enterrada sob denso concreto.<br />
Emoção tardia se liberta.<br />
De encontro, outrora, secreto.<br />
<br />
Amor verdadeiro, agora sei.<br />
Atrasei-me por assumir.<br />
Mais puro que prata de lei.<br />
Por hora vou admitir,<br />
<br />
Outro dia, <br />
descobri que te amei.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com22tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-18157994321563922292011-07-08T19:58:00.018-03:002011-07-10T20:19:55.933-03:00Andorinhas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZrXyit-M3x6kQJeGmZJFqL4gfzWP_1QGpJTIvTd9b2Jc5fpo1GSl00gDexBvkO8hF46Mp0j9T9eRrTxozMuN2kL0TUcUNMdVUEt35GnwUAb7a0LKrytH_1x4mKiz-PXnsDRcrdgXJtJg/s1600/andorinha-pequena-de-casa_bocaina-090222-O_15094a.jpg" imageanchor="1" style="clear:right; float:right; margin-left:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="172" width="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZrXyit-M3x6kQJeGmZJFqL4gfzWP_1QGpJTIvTd9b2Jc5fpo1GSl00gDexBvkO8hF46Mp0j9T9eRrTxozMuN2kL0TUcUNMdVUEt35GnwUAb7a0LKrytH_1x4mKiz-PXnsDRcrdgXJtJg/s200/andorinha-pequena-de-casa_bocaina-090222-O_15094a.jpg" /></a></div><br />
Sempre gostei de dar <i>Bom Dia</i>. <br />
Nem meu habitual mal-humor matinal, frea o ímpeto de cumprimentar estranhos.<br />
Quando criança, festejava até passarinhos nas manhãs de Búzios.<br />
<br />
_ Bom dia, andorinhas!_ dizia.<br />
<br />
De uns meses pra cá, meu <i>bom dia</i>, ganhou amplidão.<br />
Agora é via satélite.<br />
<br />
Quem diria...<br />
<br />
Por trás do vidro, no plasma, em lâmpadas de LED, pela internet. <br />
Todos os dias, acordo muita gente com as tais palavrinhas. <br />
Sei lá que cômodo, que momento, estou invadindo. <br />
Só imagino situações. <br />
Em algumas delas, talvez, até sirva de estímulo:<br />
<br />
_Essa moça já está lá no estúdio, toda arrumada, e eu aqui de pijama, debaixo das cobertas.<br />
<br />
Há também os que fazem do jornal, um despertador:<br />
<br />
_ Já ouço a voz daquela magrinha. O Bom Dia Rio começou? Tenho que entrar no banho..<br />
<br />
Esta semana, uma delegada disse que só escolhe a roupa, depois de ouvir o que tenho a dizer sobre a previsão do tempo.<br />
<br />
Baita intimidade. <br />
É preciso caprichar.<br />
<br />
Naquela hora da manhã, já falando pelos cotovelos, tinha tudo para me tornar a "incoveniente da madruga".<br />
Miro, então, em exemplos bem sucedidos. <br />
<br />
Quer um "Boa Noite" mais doce que o da Fatima Bernardes?<br />
Ou um "Até domingo que vem" tão simpático como o do Zeca?<br />
E o que dizer do "Olá" de Renata Capucci?<br />
<br />
Atuais medalhões da apresentação, eles conquistaram a naturalidade, do primeiro ao último alô, com o telespectador. <br />
Não é fácil.<br />
<br />
Eu sempre respondi ao Cid Moreira em sua tradicional despedida no Jornal Nacional. Era como um tio grisalho alertando a estudante de que já era hora de dormir. <br />
<br />
Qual seria então o segredo de se comunicar bem com uma lente? <br />
<br />
Admito que, dois anos atrás, prestes a fazer minha estreia no estúdio, cheguei a treinar diante do espelho. Foram mais de quarenta repetições.<br />
Nada feito. <br />
<br />
Hoje, observo o amanhecer, peso o humor nosso de cada dia e disparo o cumprimento leve. <br />
Como o de uma criança fazendo arte no jardim da casa de praia. <br />
<br />
Bom dia, <i>andorinhas</i>. <br />
É hora de voar...Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com28tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-47671266766465580102011-06-08T14:47:00.005-03:002011-06-08T22:08:52.023-03:00Ônibus 174<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiH6whQjQfG9J0ZM2efim6DYsePIL28sRX9PM4aEHVIwVTJCy2v8n4jJE1nxI75mysKiQEmHZIdLBAhHE3P4hqhb7B6caWs5dsa6kHYfd-RunPLUI4dtUfZkFZK3FA5YTFy-G9Gebxx_sc/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="clear:right; float:right; margin-left:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="163" width="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiH6whQjQfG9J0ZM2efim6DYsePIL28sRX9PM4aEHVIwVTJCy2v8n4jJE1nxI75mysKiQEmHZIdLBAhHE3P4hqhb7B6caWs5dsa6kHYfd-RunPLUI4dtUfZkFZK3FA5YTFy-G9Gebxx_sc/s200/images.jpg" /></a></div><br />
Era uma professora de artesanato. <br />
Voltava de mais um dia de aula na Favela da Rocinha.<br />
Tinha minha idade. <br />
<br />
Geísa pegou o ônibus naquele dia dos namorados de 2000. <br />
O percurso foi interrompido a poucos metros da minha casa.<br />
Na época, ainda morava com minha mãe.<br />
<br />
Foi naquela esquina que nossas vidas se cruzaram.<br />
Mas só uma seguiu em frente.<br />
<br />
Eu, recém-formada, já repórter da Rádio CBN, ia para uma reportagem sobre aumento do preço do material escolar. <br />
Escolhi a papelaria do português perto de casa.<br />
Meu percurso também foi interrompido. <br />
<br />
Havia um assalto com reféns em andamento no Jardim Botânico.<br />
<br />
A área ainda não estava cercada. <br />
Me aproximei do ônibus da linha 174. <br />
Surge a professora na janela. <br />
<br />
Um olhar inesquecível. <br />
Seco, arregalado. <br />
<br />
_Sai daqui repórter. Avisa aí que eu vou matar todo mundo._ disse Sandro, o sequestrador.<br />
<br />
Seguiu-se uma cobertura de seis horas. <br />
Policiais bloqueando ruas, moradores fechando janelas, atiradores posicionados e um país unido pela agonia. <br />
<br />
Geísa foi o escudo mais usado por Sandro. <br />
Quando o bandido a soltava, ela olhava para mim. <br />
Um rosto sem esperança. <br />
Parecia saber que, naquele dia, não voltaria mais para casa.<br />
<br />
_Eu vou morrer. Sei que vou._ repetia<br />
<br />
Em um momento, gritei de volta:<br />
<br />
_Fique calma! Já vai acabar!<br />
<br />
Fui repreendida pelos policiais que pediram para que eu não respondesse. <br />
Meus gritos poderiam atrapalhar ainda mais as negociações.<br />
<br />
A audiência na rádio bateu recordes. <br />
Até a tradicional "Hora do Brasil" foi suspensa. <br />
<br />
Minha avó me viu na TV:<br />
<br />
_Minha neta, afaste-se desse ônibus. Tá muito perigoso isso. Pode sobrar para você.<br />
<br />
Sentia cãibra nas mãos. Foram intermináveis entradas ao vivo ao celular também para a Rádio Globo.<br />
Uma narração dificílima. Descritiva. Tensa.<br />
Prova de fogo para uma iniciante. <br />
Tinha vontade de chorar. <br />
De fechar os olhos quando Sandro ameaçava "explodir a cabeça" dos reféns. <br />
Por várias vezes, entrei no ar com a voz embargada.<br />
<br />
_Mariana, segura o choro, porra. Não é hora para isso._ disse meu então chefe, Luciano Garrido, ao telefone.<br />
<br />
Uma bronca providencial. Fundamental, eu diria. <br />
<br />
Já era noite quando Sandro decidiu sair com Geísa do ônibus. <br />
Tiros. A professora sai carregada por PMs, ferida. <br />
Sandro é posto na mala da patrulha, ainda vivo. <br />
Morreu sufocado pelos policiais ali mesmo.<br />
<br />
Segui a ambulância que levava a professora até o Hospital Miguel Couto. <br />
Foi minha última notícia do dia:<br />
<br />
_Falamos, mais uma vez, ao vivo aqui do Hospital. Segundo nota divulgada agora pela equipe médica, Geísa não resistiu. Morreu há pouco.<br />
<br />
Foi baleada no pescoço por um soldado do BOPE.<br />
Soubemos depois que estava grávida de dois meses.<br />
<br />
Era uma professora de artesanato. <br />
Voltava de mais um dia de aula na Favela da Rocinha.<br />
Tinha minha idade.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com42tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-16475439650194597902011-06-06T17:07:00.008-03:002011-07-09T15:54:16.190-03:00Pêndulo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhy9vXlNvI2ahESQueN4jElXdQdJwULfcqlTm_4EwP3XXL29arBRvy6tu0DRwXlkpsCCV9YaYpJJnemBO8J8YlNS_4Q84ylg3nMrweQ2HcEH8Er_5dE1ukpetxWwIHfKFtjb61uwI2-wLM/s1600/019.JPG" imageanchor="1" style="clear:right; float:right; margin-left:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="200" width="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhy9vXlNvI2ahESQueN4jElXdQdJwULfcqlTm_4EwP3XXL29arBRvy6tu0DRwXlkpsCCV9YaYpJJnemBO8J8YlNS_4Q84ylg3nMrweQ2HcEH8Er_5dE1ukpetxWwIHfKFtjb61uwI2-wLM/s200/019.JPG" /></a></div><br />
Olha em frente. <br />
A longa estrada reflete no vidro do carro.<br />
Chove. <br />
O limpador seca o parabrisas.<br />
Pêndulo que varre as gotas. <br />
<br />
Vai e vem. Como o nosso amor.<br />
<br />
Quando vai, é trovoada de horizonte turvo. <br />
Resta o acostamento de mágoas.<br />
O percurso fica curto. Escorregadio.<br />
E a motorista frea.<br />
<br />
Onde está o navegador?<br />
<br />
Quando vem, é chão de pétala.<br />
Vento oxigena motores.<br />
Rodas flutuam no asfalto. Dançam.<br />
E a motorista acelera.<br />
<br />
Meu norte chegou.<br />
<br />
Agora o pêndulo está parado.<br />
O vidro cristalino.<br />
A vista, cheia de sementes.<br />
<br />
É verão em meu caminho.<br />
<br />
Vamos em frente, <i>Commander</i>.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-10381260512749787942011-06-03T18:58:00.002-03:002011-06-08T13:51:19.674-03:00Bom Dia Rio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifk6ZEoZMqi2idnP5vIVhx5fNYtFQDsenbZ3Q9rCmBTi-Ks_KS-gHdRw0HIj4gpUVgc5Qhd4q7QUpzIRUH1SOR7XazdYIyCK8WNsr36n5Y-jrUc_ebGHZEdBiqrR9sfJb6ZhUlFbhgFsY/s1600/nensc.jpg" imageanchor="1" style="clear:right; float:right; margin-left:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="150" width="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifk6ZEoZMqi2idnP5vIVhx5fNYtFQDsenbZ3Q9rCmBTi-Ks_KS-gHdRw0HIj4gpUVgc5Qhd4q7QUpzIRUH1SOR7XazdYIyCK8WNsr36n5Y-jrUc_ebGHZEdBiqrR9sfJb6ZhUlFbhgFsY/s200/nensc.jpg" /></a></div><br />
Na hora em que o sono pesa. <br />
A cama te abraça. O silêncio embala.<br />
Um alerta em transe interrompe o transe.<br />
São quatro e quinze da manhã.<br />
Levanto enrolada no edredom. Nossa separação tem que ser paulatina. <br />
Saio pelas ruas escuras e vazias.<br />
As primeiras palavras da madrugada fria são "bom dia" para o mendigo na calçada da padaria. <br />
<br />
Maquiagem, secador, camisa passada e certo mau-humor.<br />
Doze andares de elevador. <br />
No espelho, as olheiras fartamente disfarçadas. <br />
<br />
Enfim o encontro com o estúdio.<br />
Um cenário real no topo do prédio no Jardim Botânico. <br />
Revestido de vidro. Cercado de belezas naturais. <br />
Da vidraça lateral, em primeiro plano, o Corcovado e o Cristo Redentor de banda. <br />
<br />
Do vidro central, o brilho da Lagoa Rodrigo de Freitas e montanhas. <br />
O hipódromo da Gávea e tordilhos galopando. À esquerda, o Morro Dois Irmãos escancarado e farto trecho da Floresta da Tijuca. <br />
<br />
É entre cartões-postais que celebro meu alvorecer. <br />
A alegria vem mesmo com o Pão de Açúcar. <br />
Por trás dele agora vejo o sol surgir todos os dias. <br />
Um fenômeno ligeiro. Não pode piscar.<br />
O círculo rosado vai rompendo a neblina. <br />
Colorindo as nuvens. <br />
Injetando ânimo à minha prostração.<br />
<br />
Sempre gostei dos começos. <br />
<br />
Os primeiros raios iluminam meu rosto.<br />
Doam energia.<br />
<br />
Bom Dia Rio. <br />
É bom acordar com você.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com24tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-84176287723083349042011-05-26T21:33:00.002-03:002011-05-26T21:39:53.976-03:00Heróis ocultos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoLcWtH2-KDSu_t2TmJfXf905is5Udv-82pLRL2116_IHfTMPXrfqsfqHOZNyTqURJ3VlAyezxh_J2ypYJFFS4RpwaemoHh-Twbbr_gQSZwRiHLx1lrZO8Wy50wZ0kLEh2VkauUQWqrGc/s1600/imagesCAZ136EW.jpg" imageanchor="1" style="clear:right; float:right; margin-left:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="133" width="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoLcWtH2-KDSu_t2TmJfXf905is5Udv-82pLRL2116_IHfTMPXrfqsfqHOZNyTqURJ3VlAyezxh_J2ypYJFFS4RpwaemoHh-Twbbr_gQSZwRiHLx1lrZO8Wy50wZ0kLEh2VkauUQWqrGc/s200/imagesCAZ136EW.jpg" /></a></div><br />
Fim de tarde. Setembro de 2001.<br />
Cheguei à Linha vermelha as pressas.<br />
Um incêndio embaixo do viaduto da via expressa lambia casas de papelão.<br />
Uma comunidade miserável erguida sob concreto e asfalto. <br />
Famílias corriam para se salvar. <br />
Porcos encoleirados num canto escuro, aos gritos. Ambiente insalubre. <br />
O homem desesperado observa os destroços em chamas e grita pela filha.<br />
Um bombeiro invade o fogo, sem titubear. <br />
Resgata a criança. O que restou dela.<br />
Era um pequeno corpo desfigurado nos braços de um bombeiro inconsolável.<br />
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Em maio de 2004, o esgoto tomou conta da principal Avenida da Lagoa, na zona sul. Jorrava de um grande duto rompido. Invadiu carros, parou a região. Chegam técnicos do estado e desligam as bombas. A medida não surte efeito. A cachoeira fétida ainda borbulhava com força. <br />
Um deles, então, põe máscara e roupa especial. <br />
Mergulha no coco, sem titubear. <br />
Contém o vazamento e sai do buraco sorrindo.<br />
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No ano seguinte, uma adolescente é encontrada ferida e traumatizada numa calçada em Del Castilho. O pai bêbado é quem batia e violentava a jovem.<br />
Marina, de 16 anos, parecia um bicho acuado na sarjeta. Agredia quem tentasse lhe oferecer ajuda. Surge uma psicóloga que, no primeiro contato, levou uma bofetada no rosto. Depois, teve uma mecha de cabelo arrancada pela jovem ferida. A especialista não desistiu. <br />
Depois de mais de uma hora ajoelhada ao lado de Marina, ganhou um abraço da menina aos prantos. <br />
E a levantou do chão. <br />
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Nos primeiros raios de sol do primeiro dia de 2006, minha equipe estava a postos em Copacabana. A festa do Reveillon tinha acabado. A pista da orla coberta de latas e garrafas. Quilômetros de sujeira no horizonte da princesinha do mar. <br />
Surgem homens de laranja e suas vassouras. <br />
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Pergunto a um deles:<br />
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_ Por onde vocês pretendem começar?<br />
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_ Nós não pensamos em começar. Temos é que acabar a limpeza. E logo. <br />
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_Feliz Ano Novo pro senhor._ disse eu.<br />
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_ Para você também. Boa reportagem. <br />
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<i>Homenagem aos personagens cariocas que, assim como nós jornalistas, são sinônimo de resiliência.</i>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-576509062709364640.post-35778889268120161902011-05-09T21:46:00.005-03:002011-05-09T23:19:12.188-03:00A Fada do Mercadão<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizQNeGrnlE9CXSw0yAmbPfZhFQL1T2Gj_zVZayyRCDob_dIMe5VjZz_bIZMhkyQa8MeUf6o6XPf1mAb-eif_lmmqvaF2pUTHQkbuKQvKXYpUjuiLlOCWfHf7R_f2oVUd9-06mnXinbk58/s1600/fada.jpg" imageanchor="1" style="clear:right; float:right; margin-left:1em; margin-bottom:1em"><img border="0" height="200" width="139" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizQNeGrnlE9CXSw0yAmbPfZhFQL1T2Gj_zVZayyRCDob_dIMe5VjZz_bIZMhkyQa8MeUf6o6XPf1mAb-eif_lmmqvaF2pUTHQkbuKQvKXYpUjuiLlOCWfHf7R_f2oVUd9-06mnXinbk58/s200/fada.jpg" /></a></div><br />
Mulheres suspirando. Adolescentes sonhando acordadas. <br />
E o ar do planeta carregado de amor. <br />
Paramos em frente à TV, naquela sexta-feira de abril, não para ver os desdobramentos da guerra ou mais uma tragédia natural. <br />
Queríamos o beijo, não a bomba.<br />
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Um casamento real com pinceladas de "Era uma vez...".<br />
Todos os personagens ali: <br />
A princesa plebeia, o noivo fardado, a madrasta má e até as irmãs, ou primas, mocreias.<br />
Não há imaginação curta que não estique.<br />
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_Eu também quero me casar com um príncipe_ diziam moças cariocas diante das imagens.<br />
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Aquele dia, no Mercadão de Madureira, eu não fui princesa. <br />
Fui fada. Fada madrinha.<br />
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Estava em um dos mais tradicionais mercados populares do Rio com uma missão: mostrar a busca por cópias de acessórios usados pela princesa Kate.<br />
O anel de noivado, que havia sido de Diana e agora brilhava no anelar de Lady Middleton, era artigo quase esgotado na versão <i>made in China</i>.<br />
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Minutos antes da entrada ao vivo no RJTV, procurei pelos corredores do centro comercial uma jovem para entrevistar. <br />
Queria que uma das tantas cariocas encantadas com o casório, declarasse seus anseios no telejornal.<br />
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Envergonhadas, elas não se dispuseram a dar entrevista. <br />
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De repente, surge uma mulher de uns quarenta anos. <br />
Com tiara de tule na cabeça e bom humor, se apresentou como candidata a princesa. Elisa trabalha como vendedora de plantas em um quiosque do Mercado. <br />
Achei inusitado.<br />
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Primeiro fiz perguntas para a gerente da loja de bijuterias. <br />
O estabelecimento estava faturando alto com o casamento real. Vendera, em horas, dezenas de anéis de "safira" por módicos quatro reais. <br />
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Depois, apontei o microfone para Elisa:<br />
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_ Você já garantiu seu acessório "real", não é isso? _ indaguei ao vivo.<br />
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_ Sim, Mariana. Estou pronta pra ser princesa. <br />
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_ Só falta o princípe? _ remendei.<br />
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_ Pois é... Alô, príncipe Harry! Eu estou aqui! _ disse ela, olhando para a câmera sem pudor. <br />
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_Quem sabe o irmão do príncipe William não te dá uma chance? _ completou Ana Paula Araújo, do estúdio. <br />
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Rimos demais.<br />
Quando nossa equipe já estava indo embora, Elisa se aproximou com um imenso vaso nos braços. Era uma orquídea roxa belíssima.<br />
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A vendedora, com sorriso iluminado, me deu a flor em agradecimento:<br />
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_ Sou apaixonada por um cara há tempos. Ele nunca me levou a sério.<br />
Depois que me viu na televisão, agora a pouco, ligou para mim cheio de declarações bonitas. Estou até emocionada. Obrigada, minha fada.<br />
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Gerson queria ser o príncipe de Elisa.<br />
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Que sejam felizes para sempre...<br />
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Sim Salabim.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/02430335152688477575noreply@blogger.com29