segunda-feira, 5 de julho de 2010

Segredo

A vida é um livro em construção. Uma prova de resistência.
Até aqui, meus capítulos eram públicos.
Não havia cola ou grampos limitando a leitura.
A consciência diária de quão breve é o tempo, catapulta ao intenso.
Não faltam situações vibrantes. Surpresas agradáveis. Começos no primeiro pelotão.
Passeio pelo inusitado com destreza.
Preencho páginas em branco com pique de atleta sem medo de contusões.
A maratona segue com a divulgação do feito.
Uma exímia e carismática contadora de histórias. No almoço da família, na rodinha do Baixo, não levanto a mão para pedir a vez. Tenho sempre à volta público ávido por detalhes e a conversa flui sem cronômetros.
Vibro em conjunto, sofro acompanhada.

Entre as estratégias para completar o trajeto dos trinta quilômetros, ou trinta anos, sem dores musculares está um sachê. Na fórmula, carboidrato e pudor. O ritmo da corrida capta energias externas.

Hoje, censuro anúncios alegres. Olho por onde piso.
Vislumbro o final feliz.
Conquistas em andamento devem ficar longe das pistas, até que se cruze a linha de chegada. Sucesso revelado pela bandeirada final, jamais pelo corredor.
Já tenho uma estante de medalhas. Vitórias puras, livres de obstáculos invejosos. De falsos aplausos.
Para não queimar a largada, elejo ouvidos privilegiados.
Não necessariamente orelhas antigas, irmãs ou que apuraram a audição ao passo das minhas. A escolha é pura intuição.
Olho no olho. Ou um pouco mais que isso.

Segredos agora ficam em baú de antiquário.
A chave só sai do molhe quando a caminhada requer opinião especializada, de quem acompanha o pingar do meu suor.
Fatos são então compartilhados em aura de genuína torcida.
Tenho chaves de outrem em mãos.
Remexo bugigangas alheias quando solicitada.

Confiança se conquista aos poucos, aos centímetros.
O raio de atuação é mínimo.
Quando parceiros de treino são descobertos, trate-os com generosidade. Eles merecem ver-te superando limites. Por vezes, propõem exercícios duros em busca da sua velocidade. Do tiro perfeito. São anabolizantes naturais.
Não tente ditar a cadência das passadas.
Apenas conte e ouça. Sem ultrapassagens.
Siga avançando o asfalto lado a lado.

O frasco de cola, o grampeador, a chave, não precisam ficar só sob sua guarda. Basta não jogá-los para a arquibancada.
Troféus a vista.

9 comentários:

  1. A-D-O-R-E-I!!!
    Até agora, a minha suspirada favorita!!!
    Que leveza!
    Parabéns!

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  2. Que texto lindo, Gross! Conseguiu, com o equilíbrio da explosão de um atleta e da calma de uma "Lady", passar a sua mensagem! Clap Clap Clap!

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  3. "Basta não jogá-los para a arquibancada"
    É isso... E reitero: Dá muito gosto ler teu suspiros, Mariana.
    bjos

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  4. Sua foto, dispensa comentários!!!, Foto assim só para nós blogueiros de plantão rs
    Bjs
    Deus te Abençõe!!

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  5. Parabéns Mariana! Texto muito bem escrito. Dá gosto de ler.

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  6. Lindo texto. Siga com o blog ativo. É uma excelente válvula de escape para quem vive sob a pressão do jornalismo diário. Sou jornalista aqui de Santos e só não faço textos como esse pq o meu talento para isso, para essas reflexões, é limitadíssimo. haha

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  7. Carboidrato e pudor, ótimo texto, ótimas analogias!
    Parabéns.

    Vinicius Covas
    Segue no Rolé!

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  8. A.D.O.R.E.I ,Parabéns Pelo Blog , Não Consigo Sair Daki.. Beijos S.G !

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