quarta-feira, 23 de junho de 2010

Rabiscos na Caverna


A comunicação nos destaca entre as espécies.
Agora, a descoberta: A retórica, que tanto vangloriamos, é também dúbia e perigosa.
O uso incoerente, displicente, tem alcance que os olhos vêem e o coração sente.
Diálogos jogados podem doer tanto...
Falar é bom, mas, o verbo pede moderação.
O Dizer globalizou-se.
Bebe de fonte tecnológica e tem sede.
Ganhou status na internet pro bem ou pro mal.
Sabemos mais uns dos outros, porém, não estamos juntos.

A conversa? É no chat. O bate-papo é virtual. A paquera, via Skype.

A frase deslocada no blog, o termo deplacê em SMS, exclamação a mais ou a menos na grande Rede, pode desviar caminhos, implodir o HD do destino, se é que ele existe.

Eloqüente que sou, só aprendi na maturidade a lidar com tal virtude.
Mesmo com certa cautela literária, ainda derramo água fora da bacia. Provoco interpretações e, subseqüentes, inundações.
Na dúvida melhor calar, fechar a bica ou o bico.

Palavras ambíguas transbordam na tela, agitam o peito, inflam o ego e, não raro, decantam perversas na memória. No planeta interligado e ligeiro, a abundância de substantivos é um choque térmico. Entorna como balde de água gélida sobre a brasa do inesperado.

Para que falar o que se pode manifestar em gestos, olhares, aromas?

Hoje deleto exageros, enxugo exaltações. Raciono.
Busco o sublime encontro de energias irmãs e essas, não falam, não molham. Queimam.

Não quero perguntar quem és. Quero descobrir.
Não quero ler seu perfil. Quero ver-te.
Não quero escrever sobre ti. Quero encarar-te.

Um dia em encontro único, ainda hei de dançar com instintos a música muda. Deixarei alegrias gravadas em desenhos rupestres nas cavernas paleolíticas.

Sentimentos são simples como símbolos riscados na pedra.
Nada de letras, só figuras.
Hoje, O DIZER não enobrece.

O QUERER é o que me destaca entre as espécies.

11 comentários:

  1. Sem palavras para o texto, Gross! É tudo muito verdade mesmo, e você colocou isso com tanta beleza!

    "Não quero perguntar quem és. Quero descobrir
    Não quero ler seu perfil. Quero ver-te
    Não quero escrever sobre ti. Quero ter-te"

    Demais, demais...

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  2. Olá Mariana. Comecei a seguir seu blog hoje. Pra mim é um grande prazer. Muito sucesso e obrigado por compartilhar os seus textos. Beijão!

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  3. Como sempre , gostei mto ... vc tem talento heim!!
    Beijãooo... to ligado no seu blog rs
    ahhh to logando no outro blog rs

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  4. muito bom o que escrevestes. das melhores coisas que já li de ti.

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  5. Muito bom o texto. Mariana para a ABL já!!!

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  6. Acho que são as sutilezas na comunicação que conseguem diferenciar a gente dos animais. Porque, mal ou bem, todos se comunicam, em suas linguagens. Só que nós homens podemos burilar essa comunicação; torná-la mais pessoal, mais intensa, com mais sentido. Mais poética, enfim.
    De alguma forma, seu texto parece de alguém que deseja mais que a mera comunicação, mais que o mero se expressar. Isso nos humaniza, tenho certeza. E é bonito de ver quando acontece com a gente e ao nosso redor.

    Não conhecia seu lado literário, Mariana. Voltarei mais vezes, um abraço!

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  7. Muito obrigado por todos os comentários!!! Bjos

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  8. Essa sua veia literária é ainda melhor do que a jornalística (questão de ponto de vista). Costumo dizer que dentro de cada jornalista existe um escritor ou um cineasta. Vou linkar seu blog ao http:osonhodeviverembuzios.blogspot.com como um dos meus links bacanas.

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  9. Este texto ficou simplesmente espetacular. Excelentíssimas veias literárias!

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  10. Lindo demais esse texto. Verdade pura! Concordo contigo e fico feliz em saber que ainda existem pessoas apaixonadas pela descoberta e não pelas confissões virtuais.

    Amei!

    Beijo,
    Jessica.

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