Som de esmeril ao nascer do sol.
Nos fundos da casa de Búzios, o improvável: uma carpintaria completa.
Estantes de ferro escuro, maquinário pesado, ferragem pelo chão e o radinho AM, aos berros, segue a estrela solitária.
Marcenaria amadora, familiar e intuitiva.
Antecipou o futuro.
A neta indócil, por vezes, invadia o ofício atraída pelo cheiro de cedro. Pelo alarido.
_Depois do almoço tem show na varanda, tá vovô?, intimava ela.
Lá vinham então coreografias intermináveis, monólogos desavergonhados, teatrinhos toscos com participações, nada voluntárias, da tímida irmã mais nova e do primo constrangido.
Na bancada, barulho estridente, sujeira, suor. Rabiscos, lavras, aparas, entalhes.
Presente intrigante.
É uma ferramenta? Um martelo de madeira?
_Não, responde o Embaixador.
Quadrado, sem charme, é verdade. Na ocasião, João também reconhecera em riso.
Nas mãos da menina, pra todo lado, o novo brinquedo preferido.
Marcenaria familiar, intuitiva.
Antecipou o futuro.
Sigo com ele em punho, vovô...
Guiando o corte da tora, com precisão, dedos longos de um velho calvo.
Aquele senhor, capixaba, caxias, saíra menino da acanhada Alegre para o mundo. Estudo e empenho carimbados no passaporte.
Em seis das principais capitais dos quatro cantos, encarnou o modo, a linguagem, a posição de um país.
Em seis das principais capitais dos quatro cantos, encarnou o modo, a linguagem, a posição de um país.
Carreira sólida como o toco de Araribá, prestes a ser moldado.
O Embaixador, que não é José, é João, vira carpinteiro.
Marcenaria amadora, familiar e intuitiva.
Antecipou o futuro.
A neta indócil, por vezes, invadia o ofício atraída pelo cheiro de cedro. Pelo alarido.
Obediente, apreciava de longe o voo das farpas.
Depois de prontas, cadeiras, casinhas de boneca, de passarinho, ganhavam cor em pinceladas infantis. Uma lambança.
Criação lixada, virava tela para respingos juvenis.
Aquarela a vista e o mar de Manguinhos, debruçado na frente, ficava de lado.
Virava miragem.
Aos seis anos, a pirralha espoleta, repleta em piolhos e bichos do pé, queria cantar, encenar, falar e falar...
_Depois do almoço tem show na varanda, tá vovô?, intimava ela.
Lá vinham então coreografias intermináveis, monólogos desavergonhados, teatrinhos toscos com participações, nada voluntárias, da tímida irmã mais nova e do primo constrangido.
Perspicácia latente do diplomata, mestre em negociações internacionais, em avaliações vocacionais, farejou a verve da magricelinha.
Numa manhã de ventania, respondeu, singelo, aos anseios da neta do meio.
Na bancada, barulho estridente, sujeira, suor. Rabiscos, lavras, aparas, entalhes.
Num encaixe simples, duas peças envernizadas.
Por fim, a cola de sapateiro uniu o quebra-cabeça do destino.
Presente intrigante.
É uma ferramenta? Um martelo de madeira?
_Não, responde o Embaixador.
_É seu primeiro microfone.
Quadrado, sem charme, é verdade. Na ocasião, João também reconhecera em riso.
Logo personalizei o mimo com iniciais em purpurina cor de rosa na canopla. "S.G." ou "Super Gata". Auto elogio típico da insegurança adolescente.
Nas mãos da menina, pra todo lado, o novo brinquedo preferido.
Parceiro que, mesmo afônico, explanou ao balneário o desejo inconsciente, oculto.
Marcenaria familiar, intuitiva.
Antecipou o futuro.
Sigo com ele em punho, vovô...
Emocionante, Mariana...
ResponderExcluirLembrei de meu avô, morto em 87. Tem coisas que não voltam....
Realmente acertou. Parabéns pelo post.
ResponderExcluirParabéns Mary!
ResponderExcluirNão só o Luciano o lembrou, mas também lembrei-me imediatamente.....E, como ele afirmou...infelizmente têm coisas que não voltam... Anna Frigeri
Essa história é linda!
ResponderExcluirFoi uma das primeiras que li aqui no blog. Ela realmente merece estar no topo do blog.
Beijo Mari.
lindo !!! as lembranças da infancia são, em geral, o que nos fazem ver sentido no que nos tornamos ameniza o peso da luta diaria...
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