O anel é da minha mãe.
Mulher com gosto invejável para jóias.
O fascínio foi herdado de minha avó. Embaixatriz que percorreu boa parte do mundo e, mesmo sem muita verba, juntou uma pequena coleção. Peças simples que guardam memórias dos países nos quais viveu ao lado de meu avô.
De tanto que surrupiei o anel da mamãe, ela se viu obrigada a ceder.
O adorno caiu como luva em meu dedo indicador.
Uso desde os dezoito anos. Uma estranha identificação sanguínea.
É feito de prata com fina camada de ouro branco.
Uma vez, amassou na lateral depois de um esbarrão na mesa.
Ficou ainda mais charmoso.
Nos arquivos de minhas primeiras matérias, o rosto é de jovem estagiária assustada e o anel já aparece lá, reluzente, na mão esquerda.
Em uma reportagem sobre gripe, nossa equipe pretendia ensinar como lavar as mãos corretamente para evitar o contágio.
Um ônibus-escola da Secretaria de Saúde do Estado recebia os moradores em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Na lateral, pias móveis com água corrente eram a sala de aula.
Na hora do telejornal, coloquei um microfone na lapela da camisa para ficar com as mãos livres.
Ao lado do agente de saúde, lavei as mãos ao vivo.
Ele me sugeriu que tirasse o anel para higienizar bem o cantinho entre os dedos.
Fui embora. O anel ficou, esquecido na lateral da pia.
Só lembrei quilômetros depois, já em casa.
Liguei desesperada para assessores da Secretaria.
Nem sinal.
Uma semana depois, sem esperanças, recebo um telefonema pelo celular.
Um senhor de voz calma e gentil:
_ Mariana Gross? Aqui é José. Foi você que perdeu um anel?
José era o motorista do ônibus da Secretaria. Achou o anel no chão embaixo da roda dianteira do veículo:
_Vi porque o sol fez o anel brilhar. Comentei hoje com a moça da Secretaria e ela disse que podia ser o seu._
Do outro lado da linha, o coração bateu forte. Pela descrição, era mesmo meu amuleto da sorte.
Um motoboy amigo foi no mesmo dia, a meu pedido, até a casa de José, em Duque de Caxias.
O motorista não me pediu recompensa. Mesmo assim, mandei um envelope com quinhentos reais e um cartão de agradecimento.
Na volta do motoboy, lá estava meu anel, cuidadosamente enrolado em papel de seda dentro de um saquinho plástico.
Voltou para meu dedo de imediato.
O envelope também voltou, com um bilhete:
"Mariana, minha família agradece o dinheiro, e, mesmo precisando, estamos devolvendo. Você não deve se lembrar, mas, esteve aqui na minha rua há cinco anos. Mostrou na TV o esgoto vazando, os buracos e a falta d`água. Ainda tomou um suco na casa da minha mãe. Depois da reportagem, fizeram a obra. Consertaram tudo. Nossa vida mudou. Feliz do destino que me deu a chance de retribuir sua ajuda."
Mundo pequeno esse.
E o anel, amassadinho, ganhou valor inestimável.
O valor da gratidão.
Fantástico!
ResponderExcluirÉ para parar tudo e refletir. Atitude fantástica do Seu José.
Em tempos que honestidade e bom caráter viraram qualidades, encontrar alguém desse tipo é mesmo uma preciosidade.
Parabéns pelo registro.
Mariana, vc tem o dom de me arrepiar com suas histórias tocantes. Parabéns pelo que você faz! Jornalismo é cruz e delícia. Beijos do seu fã.
ResponderExcluirSem palavras. Por essas e outras que eu continuo acreditando nas pessoas de bom coração e a arte do encontro. Palmas para essa história.
ResponderExcluirEspetáculo!
ResponderExcluirQue história fantástica, você sempre nos presenteando com suas história.
ResponderExcluirBeijos.
Inestimável!
ResponderExcluirFica a dica de sugestão de pauta para o Globo Comunidade. De como anda as boas maneiras dos Cariocas e Fluminenses
Viva!
ResponderExcluirAssim é bom viver!!!!!!!!!!!!!
Que história mais linda!
ResponderExcluirGratidão é uma das características mais lindas e nobres que um ser humano pode ter. Seu José é uma pessoa admirável.
Obrigada por compartilhar algo tão bonito com seus leitores.
Beijo Mari.
Nossa, me deu ate uma vontade de chorar, de verdade!!
ResponderExcluirVocê pode trabalhar e ganhar milhares e milhares de reais, mais a gratidão é o melhor que podemos receber.
Muito legal Mari! Gratidão e reconhecimento pelo seu belo trabalho.
ResponderExcluirParabéns!
Ao Seu José fica o agradecimento por ainda poder acreditar nas pessoas.
Bj
Thomaz
Isso acontece somente com o cotidiano, convivendo com as pessoas. Independente de raça, situação financeira... Amigos temos em qualquer lugar. Basta a gente querer se identificar com os mesmos.
ResponderExcluirFiquei arrepiada, de verdade.
ResponderExcluirBeijos Thamine
Adoro seus textos! Sempre bonitos.
ResponderExcluirIndescritível essa história. Obrigado por compartilhar conosco, querida!
ResponderExcluirInestimável! Não só o valor do anel, mas o valor que tem o caráter do Sr. José. Um homem que reconhece o fato de fazer pelo próximo o que ele quer que faça por ele. Sensacional!!
ResponderExcluir@PetterMC
www.diario-mc.blogspot.com
Ainda existem pessoas boas e honestas no país, Mariana.
ResponderExcluirFiquei comovido com o seu post.
Parabéns.
emocionante!
ResponderExcluiruma história mais bonita que a outra
parabéns
Texto lindo e emocionante... Sou fã do seu blog :)
ResponderExcluirBjos
Parabéns Mariana, a cada post fico mais encantada com a nossa profissão e os prazeres que ela nos dá. oBRIGADA!
ResponderExcluirÓtimo texto Mariana,parabéns!Sou seu fã!
ResponderExcluirMariana, você sempre me faz suspirar com a delicadeza de sua literatura. História linda de uma pessoa pessoa mais reluzente que o seu anel. Bjs!
ResponderExcluirVerdadeiramente emocionante! Nobre o gesto do José...
ResponderExcluirMais uma vez uma história linda e bem contada por vc!
ResponderExcluirParabéns pelo seu dom de encantar através das palavras, sejam elas escritas ou faladas por vc.
Sou fã!
Caramba Mary.. sempre me da vontade de chorar com seus posts... Ja pensou em escrever livros?
ResponderExcluirmenina vc tem um talento incrivel, tem o dom das palavras certas no lugar certo na hora certa..
Nossa cada conto mais lindo q o outro..
parabéns novamente. Bjs da sua mais nova admiradora e "xará", Mary
Viagem do dia: Macaé x Campos!BR 101
ResponderExcluirLágrimas escorrendo depois que li o texto!Senhorzinho ao meu lado :"Minha filha, tá td bem?!"...rs!
Muito bom o seu texto. Sei muito bem o que é ajudar aos outros dessa maneira, realizando obras públicas.Acho que mais do que reaver o seu anel, ficou a sensação de alegria por ter ajudado (através de sua reportagem) a população daquele lugar.
ResponderExcluirParabéns
Bela história, prova que a vida pode ser mais surpreendente do que se possa imaginar.
ResponderExcluirhttp://duo-postal.blogspot.com
Fui criado em uma casa em que meus pais sempre me ensinaram sobre os valores morais e o papel de um homem no meio da sociedade.
ResponderExcluirSeus textos deveriam ser explanados no intervalo do Jornal Nacional e ou no lugar do BBB 11 séria de maior valor p/ sociedade que a cada dia que passa vem perdendo os valores morais e os sentimentos puros e verdadeiros.
Como podemos acabar com a fome no mundo? Uma sábia Religiosa respondeu...
Uma pessoa por vez...
Lindo...
ResponderExcluirAcompanho o Blog há um tempo e nunca postei comentário. Mas essa história me arrepiou!!!!
ResponderExcluirQue linda!!!!!!
Fiquei impressionado com essa história. Mundo interessante e ainda mais interessantes são as pessoas. O gesto do Seu José põe muita gente para pensar, inclusive, eu. Precisamos dar importância as coisas que, realmente, valem a pena nessa vida. Uma delas é a gratidão. Bjs
ResponderExcluirComo sempre uma linda historia ... essas passagens reais são emocionantes.
ResponderExcluircontinue nos presenteando com seus relatos e pensamentos.
parabéns!!
Fabrício @briciaosouza
Mariana Gross, gosto mesmo dos seus textos. :)
ResponderExcluirE, humildemente, indiquei um selo ao seu blog.
Gostaria que você o aceitasse, e, quando puder, visite meu blog. Sou um iniciante, mas com vontade e amor pelas letras.
http://danielcotrimp.blogspot.com/2011/02/selo-de-blog.html
Linda história e viva o José!!!
ResponderExcluirSem palavras =D
ResponderExcluirOi Mariana, ia comentar o texto sobre a tragédia da região serrana, mas nada há para ser dito que console a dor que você sentiu e a saudade que ainda sente.
ResponderExcluirSão acidentes que realmente nos fazem duvidar de uma força divina. Porém é a fé que nos devolve a energia necessária para seguir em frente.
O que posso comentar é que me arrepie ao ler! Torço para que um dia percepções tão reais e humanas tenham um espaço no jornalismo.
Falando sobre esse texto do anel confesso que fiquei angustiada com o paradeiro dele e sentir um forte alívio quando li que ele voltou para o seu dedo. Que bom!
Essa é aquela prova que a força divina existe e olha por aqueles que fazem bem a si e ao próximo.
Parabéns pelo grande trabalho que faz! Já assisti a umas palestras sua na Universidade Estácio de Sá (Tom Jobim) e como estudante de Jornalismo credito a você o incentivo a busca por um lugar no mercado.
Estou adorando o blog! Bom saber que existe uma Mariana além da que narra os fatos do dia em poucos segundos.
Beijos, Andréia Homem. (@andreiahomem)
hehe dona Mary... Vini de novo comentando atrasado um post seu KKK
ResponderExcluirEnfim, esse é o lado gostoso do jornalismo... fazer justiça, levar ao povo a informação necessária, e fazer a vida de alguém mais feliz.
Mas acho que deveria ter ido ao encontro de Seu José, para que ele pudesse ver seus olhos de gratidão e você os dele... Sabe, às vezes um sorriso, um abraço, um simples obrigado, valem muito mais que R$ 500... São as coisas simples da vida que nos trazem as felicidades mais magníficas (:
Bjos moça... bom trabalho \o/
E M O C I O N E I ! ! !
ResponderExcluirNossa!!muito emocionante o seu texto...parabéns!!!menina q vc continue a ser esta reporter , escritora, maravilhosa!!!bjos sua fã : JOSY
ResponderExcluirAdoro seus textos!
ResponderExcluirUm dia vc tem que compilar tudo que publica aqui em um livro!
Este do anel ficará perfeito como o texto de abertura.
Ler algo desse tipo nos realimenta o coração para superar os momentos negativos que se apresentam no dia-a-dia.
Cara, que lindo!!!
ResponderExcluirAinda existem pessoas de bom coração nesse mundo.
Adorei a história.
Um beijo
Nossss que historia linda.
ResponderExcluirEu,como cidada Duque Caxiense,estou mais que nunca orgulhosa.E como sempre digo,e como tambem dizia o profeta,gentileza gera gentileza.
Emocionei!!!(2)
ResponderExcluirEsse texto está maravilhoso, além de extremamente emocionante. É claro que, quando bem escrito como esse, fica mais bonito.
ResponderExcluirParabéns, e obrigada pela prazerosa leitura.
Teu blog tem uma coleção muito legal de histórias simples, importantes e, porque não, mágicas.
ResponderExcluirVocê era a única repórter que eu conhecia de nome e rosto, na TV, desde criança.
Hoje, lendo teu blog, você passou a ser pra mim ainda mais do que a repórter que conhecia de nome...
Parabéns.
Quanto mais eu leio,mais eu me surpreendo,mais eu me emociono e mais admirado eu fico pelo seu trabalho,pela sua personalidade e pelo nosso povo,esse Brasil de tantas faces,tantas cores e tantos estilos.Como é bom saber que existem pessoas como Seu José,fico muito feliz,quanta história interessante,quanto sentimento,quanta felicidade,quantos momentos inéditos de uma guerreira que segura um microfone e faz dele uma arma contra os desafios da vida.
ResponderExcluirQue história bacana Mariana. Virei seu fã. Sem contar que tem o mesmo nome da minha filha. Essas Marianas são determinadas. Passei o carnaval no Rio e ví você faznedo um vivo na Cinelândia com o pessoal do Cordão da Bola Preta. Aí disse para ela, o nome daquela repórter é Mariana. Agora toda vez que ela vê você no vídeo, lembra do nosso passeio , quando caminhavamos pelo centro embaixo do sol forte rumo ao consulado americano.
ResponderExcluirComo dizia São Freancisco de Assis é Dando que se Recebe.essa é a lei.
ResponderExcluirMeu olho encheu d'a'gua.Fantastica historia.Ah se tivessemos um pouquinho de gratidao desse Motorista
ResponderExcluirMe arrepiei!!!! Show essa história... Parabéns, vc é dessas, comecei a pouco tempo acompanhar seu trabalho...fascinante suas escritas!!!
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