sábado, 25 de setembro de 2010
Homo Gênio
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos
Vira uns de pernas para o ar
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono
Ele invade minha intimidade
E até me constrange
E se diverte com meus gritos
Acalma meu rubor
Põe as pernas sobre as minhas
E bate palmas sozinho
Sorrindo para minha entrega.
Ele se descontrola de desejo
E às vezes expõe seu fervor
Me prende em casa ao som dos pingos
Arrefece meus vôos à vinho
Põe as mãos em meu couro
E durmo no embalo da respiração
Sorrindo para o encontro.
Ele quer mais
Quer sempre mais, não só de mim
Perfura sutilmente meu bloqueio
Desafia minha paciência
Põe lenha no fogo
E bate palmas sozinho
Sorrindo para a sorte.
Ele é onipresente nas canções
No dedilhar da viola aprendiz
No riso franzido de nariz
No Rolling Stones do fim de noite
Põe no pires meu orgulho
e bate palmas sozinho
Sorrindo para mim.
Ele é homem.
Homo Gênio.
Escrito depois de ler Fernando Pessoa numa tarde chuvosa.
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