Olivia e eu aos 6 anos |
Fiz xixi na cama sonhando. Estávamos em Angra dos Reis naquela Páscoa.
Acordei a mamãe envergonhada. Ela tratou de recolher o lençol, ainda de madrugada.
Saímos num passeio de barco. Na volta, lá estava o colchão manchado de urina tomando sol na entrada. Não teve jeito. Virei chacota da turminha.
Nem bolo, quis comer.
Aos 7, comemorei a data na festinha de uma amiga. O mágico me convocou para a apresentação. Fiquei dentro de um caixote por alguns minutos.
O "senhor dos sortilégios" fazia suas firulas.
Eu, experimentava a claustrofobia.
Estraguei o truque aos prantos. Uma cena hilária.
No aniversário de 9 anos, teve discoteca na sala de casa.
Mamãe tirou todos os móveis. Arranjou um cercado de madeira que delimitava a pista.
Usei bota de borracha branca com franjas da Melissa e minissaia de camurça azul.
Modelito aberração teen da época. Abri a série do Karaoquê interminável, sem medo de ser feliz.
No microfone, um desafinado "Diz pra eu ficar muda, faz cara de mistério..." do Kid Abelha.
Aniversariante pode tudo.
Aos 13, ganhei festa surpresa no Gattopardo. Pizzaria point da cidade.
Chorei e tudo com a surpresa. Lembro que meu pai se incomodou com "Bichos escrotos" aos berros no salão.
Tinha palavrão na letra dos Titãs...
No dia seguinte, desfilei no colégio a mochila nova da Company.
Objeto de desejo de toda gatinha carioca.
Não quis festa tradicional aos 15 anos. Preferi uma bagunça com amiga ainda mais animada que eu.
O pai da Maria morava numa casa enorme no Joá. Quase botamos a mansão abaixo.
Perdemos a lista de convidados e o controle. De repente, mais de trezentas pessoas sacudiam no deque de madeira. E, acreditem: o DJ mais famoso da época era Indio da Costa. Ele mesmo.
O vice de Serra nas últimas eleições. Ficamos desacreditadas pela família depois do estrago.
Que foi divertido, foi.
No apartamento da mamãe, foram várias reuniões nos aniversários seguintes.
Sempre com duas cópias da lista seleta e segurança na porta.
Banheiros entupiram, copos quebraram, sofás mancharam.
_Sem conserto. _disse a faxineira, chocada no fim de um dos agitos.
Casais, que ainda existem, se formaram sob o teto daquele apê.
Amor verdadeiro vale mais que a "perda total" dos tapetes.
Depois de mais de 30 comemorações, me pergunto:
Se não soubesse quantos anos tenho, quantos anos eu me daria?
Talvez 6, pela ansiedade que, vez por outra, me invade.
Talvez 7, pela claustrofobia que, vez por outra, me aflige.
Também pode ser 15, pela ousadia adolescente que só aumenta,
Ou até 50, pelas responsabilidades, que vez por outra, assumo.
Não importa.
Depois de três décadas, ficamos experientes em datas festivas.
Aniversário ganha sabor diferente.
Sabor ainda mais gostoso.
Vamos dançar até de manhã?