Sou livre, sem gaiola, iluminado, ao mesmo tempo, tenho medo.
Mas, guardo o temor sob as penas metálicas, sob o couro, no âmago.
Do contrário, a revoada egoísta me levaria, zombaria, engoliria.
Sou pássaro maduro, herói da seleção natural.
Por que então questionar conquistas? Para que pedir, se posso fazer sozinho?
Escolhas, alimento, ninho... Tudo meu. Tudo eu.
Descubro que de nada adianta ter pólen em profusão. Só pra mim.
Beija -flor que não divide, não tem pouso.
Reflexões ainda em curso já trazem ventos mais frescos.
Sim, minhas asas seguem rápidas. O radar é que apurou. Traço alvos desafiadores, tenho meta. Risco vertical.
Flores rasteiras, rasas de raiz, inodoras, deixo para os pombos ciscarem.
Busco agora as Margaridas polpudas que florescem no alto da sacada. Da bancada. Subo sem pudor, me mostro, me arrisco. Passeio em seus canteiros, invado seu arranjo, sem convite.
Torço para que me prenda em seus galhos tortos e frondosos.
Me roube a solidão, sem que eu implore.
Requer presteza, paciência, até encontrar brecha.
Talvez em breve, ou nunca, me canse de espiar seu jardim que, mesmo sem espinhos, espeta impetuosamente. No interim, me divirto com Lírios, Copos de leite e Jasmins.
Logo o faro me trai.
Volto a sua janela. Pairo no ar. Fito a doçura escondida entre as pétalas. Respiro de longe seu perfume natural.
À espera do NÉCTAR.
Por ele, só por ele, reduzo o giro, aguardo.
Arremeto.